ASSINE
search button

A diferença no julgamento de Eike e de seus ex-companheiros de presídio 

Compartilhar

Eike Batista foi acusado de pagar US$ 16,5 milhões de propina ao esquema orquestrado pelo ex-governador Sérgio Cabral. O valor seria para facilitações em contratos públicos no Rio de Janeiro. Ele também responde a outros processos, inclusive no exterior. 

O empresário foi preso em janeiro deste ano após desembarcar Rio de um voo que o trazia dos Estados Unidos. Em apenas quatro meses, ele recebeu o direito a prisão domiciliar após decisão do ministro do STF, Gilmar Mendes, atendendo ao pedido da defesa. O ex-detento que cumpria pena em Bangu foi autorizado a cumprir pena com todo conforto: em sua mansão avaliada em R$ 20 milhões, localizada no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. 

Sua realidade é muito diferente de seus ex-companheiros de Bangu, que esperam durante anos por um julgamento. E neste período sofrem com todos os problemas conhecidos do sistema prisional brasileiro. Quando julgados, são condenados há muitos outros anos com privação da liberdade e também de sua dignidade. Os presos pobres não têm dinheiro, não tem poder e muito menos advogados poderosos com contatos e relacionamentos estreitos diretamente com o STF.

A relação dos advogados de Eike com o ministro Gilmar Mendes fez com que o procurador Rodrigo Janot solicitasse o afastamento do ministro do caso, uma vez que a esposa de Gilmar trabalha no escritório que defende Eike. Um fato estranho e que não é apenas uma coincidência.

Além da diferença nos julgamentos, os presos pobres nunca desviaram nem de longe o valor que Eike é acusado. Eles nunca tiveram as oportunidades e a vida de luxo que este senhor teve. Mesmo assim passam anos presos e, quando são soltos, são jogados na rua sem nenhuma oportunidade de reintegração. Eles saem sem nem mesmo o dinheiro da passagem e, por isso, 70% destes reincidem nos presídios brasileiros.

Eu poderia passar horas e dias escrevendo aqui as diferenças no que chamamos de justiça no Brasil, mas encerro este artigo com a vergonha de assistir a tanta desigualdade em um país que favorece os ricos e continua matando os mais pobres.

* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestre em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade