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As favelas, os projetos, os desvios de dinheiro e o abandono

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A noticia da retomada do que chegou a ser o maior programa de reurbanização de favelas da cidade do Rio de Janeiro, o Favela-Bairro, causou um misto de perplexidade e incredulidade.

Perplexidade pelo fato de que, no momento em que se tem notícia de que mais de R$ 100 milhões foram roubados do montante destinado às obras de infraestrutura do PAC Favelas, só no Complexo do Alemão, é de fato curioso.

Para além dos prejuízos causados com o desvio de verbas, resultado das ações ilícitas do ex-governador Sérgio Cabral e a organização criminosa que comandou na vigência da sua atuação no executivo estadual - prejuízos como a paralisação do teleférico no Alemão, a não conclusão das obras de saneamento na Rocinha e o agravamento da situação da moradia em Manguinhos -, fica em relação ao município, que em muitas destas favelas atuava conjuntamente, o questionamento sobre o Morar Carioca.

O Morar Carioca, que mobilizou diversos escritórios de arquitetura e se propunha ser o programa que encerraria o ciclo de grandes intervenções em favelas, radicalizando na participação popular, e intensificando a integração das favelas com o seu entorno, como dizem por aí, "subiu no telhado".

Sem nenhuma clareza, o que se quer saber é o que de fato significará para as favelas essa retomada, e para seus moradores(as), que ainda sonham com a total implementação de um sistema de saneamento adequado, com abastecimento de água e esgotamento sanitário de verdade e com eficiência, com equipamentos públicos como creches, atendendo a real demanda das famílias.

Com equipamentos culturais e de esporte que funcionem e com um serviço de atenção básica, com a possibilidade de desenvolver e promover saúde com total amparo material e humano. 

O que as favelas menos precisam neste momento tão difícil são ações que não cumpram o anseio e a demanda por ações públicas que realizem o que se propõem e que integrem honestamente a necessidade local, respeitando a singularidade e as peculiaridades da favela.

*Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel