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A difícil cura do veneno do racismo

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Uma amiga me liga pois sabe que escrevo artigos no Jornal do Brasil. Me liga porque sente no peito a angústia de viver o horror do racismo velado, traduzido em olhares e indiferença, ao acessar um café no interior de um grande cemitério na Zona Portuária carioca.

Completamente ignoradas, ela e sua mãe amargaram ainda o constrangimento de verem seu amigo branco ser coberto de gentilezas é só o verem se aproximar delas, mudarem drasticamente de postura.

O Racismo produz esses sentimentos, marcas como as que a bela Renata Shaw e sua mãe, duas mulheres negras, bem vestidas, bem educadas e com a certeza de que essa seria a marca da distinção. Mas o veneno do racismo é terrível e de difícil cura.

Seus efeitos vão da situação dolorosa que envolveu estas duas mulheres, aos inúmeros casos de morte de mulheres negras ao dar à luz, na estatística das que se vão mais depressa por causa do câncer de mama e de útero, das que vivem e criam sozinhas seus filhos e filhas.

O racismo se materializa na pobreza extrema, produzida pelas ferramentas das desigualdades, na manutenção dos negros e negras em espaços vulnerabilizados por precariedades nas e das políticas públicas destinadas à estas áreas, na criminalização dos seus corpos masculinos e femininos.

Na destruição dos seus sonhos, na criação de obstáculos à sua boa educação e mobilidade social e econômica. Sei que minha linda amiga Renata Shaw, graças aos céus, poderá sonhar, e continuar sua trajetória. Poderá contribuir para dar visibilidade ao racismo velado de parte dessa sociedade. O que muitos negros e negras não poderão mais, como a linda Maria Eduarda por exemplo.

Porque continuarão alvo deste racismo, que cristalizado na estrutura da sociedade produz ainda mais sofrimento, como o sofrimento mental, o seu encarceramento em massa, na mutilação de seus membros, na exploração de sua força de trabalho, na produção diária de sua invisibilidade, na ridicularização da sua cultura, na permanente manutenção da sua exclusão do mercado de trabalho e na banalização da sua morte.

"OUVIU-SE UM SOM EM RAMÁ, UM SOM DE UM CHORO AMARGO. ERA RAQUEL CHORANDO POR SEUS FILHOS; ELA NÃO QUIS SER CONSOLADA, POIS TODOS ESTAVAM MORTOS"( MATEUS 2:18)

*Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel