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Soltem todas as presas mães, soltem a mulher do Cabral

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É lamentável a desculpa da justiça brasileira em liberar a mulher do ex-governador Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo, para cumprir prisão domiciliar. Ela é acusada de envolvimento no esquema de corrupção do ex-governador, que desviou milhões do governo do Rio de Janeiro. Na última sexta feira, ela recebeu autorização da justiça para cumprir a pena em casa. A desculpa é que ela tem dois filhos. E o castigo para todo envolvimento: ficar em casa sem internet e telefone, um típico castigo que se dar a filhos adolescentes que desobedecem aos pais.

Concordo que os filhos precisam das mães em casa. Então, que se soltem todas presas mães e gravidas. Quantas presas não já tiveram que dar à luz e se despedir de seus recém-nascidos dentro da cadeia. Aqui na Rocinha, conheço uma mulher que tinha 7 filhos e nem por isso nenhum juiz teve pena dessas crianças, ficou presa por anos. As crianças foram todas criadas por parentes e pessoas próximas. São várias histórias como essa por todo Brasil. São presas que não roubaram nem 0,001% do que esse casal é acusado, mas que são pobres e por isso a lei não é a mesma.

E por que os filhos do Governador terão o privilégio da mãe em casa? Porque ela é rica e conseguiu rapidamente esse benefício. Enquanto isso, temos centenas de presos que ainda aguardam julgamentos, esquecidos nas cadeias. Eu vejo toda semana as famílias dos presos saindo da Rocinha para visita-los, passando as maiores dificuldades e vexames para entrar na cadeia e levar um pouco de dignidade aos seus presos.

Agora, a crise instalada no Rio de Janeiro, servidores e pessoas desempregadas passando fome, a população sem os serviços básicos. E ela vai cumprir a pena em casa, vestindo as joias e vestidos luxuosos, comendo da melhor comida, e rindo de todos nós e tudo isso pago por nós. O juiz atender a esse pedido de prisão domiciliar é uma vergonha ao país, é uma vergonha a operação Lava-Jato. Vamos aguardar que o próximo a ser solto é o Cabral.

Sr. Juiz, se sua preocupação for o cuidado com os filhos deste casal, a minha preocupação é o que ela vai ensinar a eles.

Esse é sim um país desigual. 

* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestre em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade