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Motorista, me deixa ali na passarela

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O titulo da matéria pode retratar uma cena cotidiana do usuário de ônibus do Rio de Janeiro ou em qualquer outra cidade do país. Porém, quero abordar um tema que fragiliza e tira a dignidade do profissional e trabalhador: a dupla função do motorista de ônibus.

A foto aqui embaixo registra um acidente que vimos nessa última terça-feira (20) de um ônibus colidindo com uma passarela na Avenida Brasil, na Altura da favela Marcilio Dias na Maré. Quero me ater a alguns problemas que essa imagem me faz refletir.

Toda vez que subimos em um ônibus na cidade do Rio de Janeiro somos surpreendidos por um absurdo que vem colocando nossa vida em risco. Ao entrar no ônibus em qualquer canto do Rio, somos interceptados pelo motorista do coletivo que dirige e cobra a passagem ao mesmo tempo. Se pararmos para observar os detalhes daquele trabalho veremos o porquê um acidente como esse (acima citado) não nos surpreende tanto. Felizmente não teve vitimas fatais na colisão, porém, o mecanismo de exploração que esse funcionário do transporte público é submetido, permite que sinalizemos algumas reflexões.

Sabemos que o ônibus não cumpre com a demanda desejada. É um para e anda, o motorista recebe e dá troco, só fica a ansiedade para movimentar o coletivo, além de ficar desesperado em fazer o transito andar vista que outros ônibus ficam colados na traseira do seu busu.

Infelizmente o profissional não consegue ter vigília, atenção, concentração, raciocínio, percepção, respostas motoras rápidas, sensibilidade tátil, visão e audição que permite que fique ligado em tudo que acontece no transito. A responsabilidade desse profissional está comprometida. Além da sobrecarga do trabalho, o submetem a situação de alto risco. Em cada viagem um coletivo leva em torno de 60 a 80 pessoas.  São de 60 a 80 vidas comprometidas.

Não consigo entender como que todos os órgãos responsáveis pela segurança no trânsito não preocupam-se com a atenção, concentração, redução do estresse, e melhoria da qualidade de vida no trabalho desse cidadão.

Os empresários lucram ao reduzir o numero de funcionários, e em troca os motoristas de ônibus exercem dupla função no ambiente trabalhista. A lógica é simples, os tubarões do transporte no Rio ficam ricos e os seus funcionários facilmente desenvolvem sinais comprometedores da sua saúde física e mental, com reais sintomas e doenças.

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.