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Caminhão do Exército é utilizado para transportar drogas. E aí? 

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Vimos rodar essa segunda-feira a triste notícia que três cabos do Exército foram preso em Campinas, no interior de São Paulo, após trocas de tiro, ao serem flagrados transportando cerca de três toneladas de maconha em um caminhão do próprio Exército. 

Fiquei estarrecido com a notícia por vários motivos, mas vou citar apenas dois. O primeiro foi ver militares mais uma vez desmoralizando as instituições quando deveriam servir a pátria, arrancando dos militares coerentes o direito de defesa das forças armadas. Segundo por ver nesta ação, não só as mão de praças do Exército, mas uma série de  outros atores envolvidos no caso que foram escondidos nas entrelinhas das matérias que falaram do caso.

A pergunta que fica, e que não pode deixar de ser falada, é fruto do desejo de saber quem é que financia esse tipo de tráfico, quanto tempo isso acontece e com que frequência esse crime é cometido. 

Digo isso porque tem um conjunto da sociedade civil que acha que dentro da favela tem fábricas de armas, plantação de maconha, laboratório de refino de cocaína e de outras drogas sintéticas. É impressionante ver que nos dias atuais, as pessoas criminalizem tanto a pobreza ao ponto de achar que o tráfico de drogas no país é culpa dos favelados. 

Ouso dizer que as armas e drogas que chegam na favela, vêm também das mãos dos mesmos que querem nos pacificar. É fruto da corrupção daqueles que fazem operações policiais em nossos territórios, que alimentam o discurso do combate de venda de drogas no varejo e que colocam cotidianamente a vida dos moradores, dos policiais e dos traficantes em risco.

Assim como não sabemos de onde vieram aqueles 500 quilos de cocaína pura encontrados em um helicóptero privado, que era registrado no nome de uma família de políticos, não saberemos de onde vieram as 3 toneladas de maconha encontradas no caminhão do Exército.

A política de segurança age assim: prendemos os peixes pequenos e deixamos os peixes grandes livres no mar da corrupção e da falta de responsabilidade social, pois no Brasil, cadeia é só para preto, pobre e favelado. 

Enquanto isso, os verdadeiros financiadores do tráfico de drogas e armas estão posando pra coluna social, se candidatando a cargos eletivos e dando uma de bom moço por aí.

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.