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Tempos de guerra na Maré

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Uma semana intensa de conflitos entre polícias e traficantes deixaram a população do conjunto de favelas da Maré em pânico. Helicópteros, caveirões, dezenas de carros da polícia, um arsenal de guerra e uma chuva de tiros nas comunidades. O saldo: três moradores baleados. Uma agente de saúde está internada, uma moradora com um tiro de raspão na perna e um outro morador foi morto com um tiro na cabeça.  

Nós, da comunidade da Maré, não somos responsáveis pela guerra que o Estado inventou.  Não estamos em guerra com ninguém. Aqui não é reduto de bandido. Somos 150 mil moradores que trabalham o dia inteiro para fazer essa cidade funcionar.

Somos cidadãos que acordam cedo para servir ao sistema capitalista que nos explora constantemente. Não temos transporte de qualidade, os ônibus enfrentam enormes engarrafamentos e sempre estão lotados. Criamos nossas crianças em meio a esse conflito, onde todos os dias nossos filhos se deparam com criminosos com armamento de guerra. A saúde está em situação de calamidade pública. As escolas abandonadas e os professores com seus salários atrasados. O único braço do Estado na favela é a polícia. 

Repudiamos todo o tipo de violência. A mídia tenta manipular as informações. Porém, aqui é a verdade cotidiana narrada. Essas operações não são para reprimir o tráfico de drogas, mas sim para criminalizar a favela e a pobreza. Na favela não tem fábrica de cocaína e muito menos plantação de maconha. Gritamos ao mundo que estamos cientes de nossos direitos e queremos que se faça valer.

Nossos filhos têm direito de sonhar. Exigimos nosso direito de ir e vir. Repito: essa guerra é insana, produzida por um Estado de exceção, que condena o negro, o pobre, o favelado, nos marginaliza e nos exclui da dinâmica social. Queremos direitos constitucionais para todos, para os favelados e os não favelados. 

O "Aphartheid" apresentado só deixa nítido para quem é essa cidade. Vou além, me entristece dizer, mas as Olimpíadas será paga pelo sangue de milhões de inocentes que todos os dias são assassinados nas periferias das grandes cidades.

Chega de violência!

*Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.