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95 dias para a Olimpíada e jovens, negros e pobres continuam morrendo

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Enquanto os olhares se dirigem para a realização das Olimpíadas, jovens, principalmente, negros e pobres, são cada vez mais vítimas dessa guerra aos pobres. Segundo dados da Anistia Internacional, a violência nas favelas recrudesce: de janeiro a abril, 11 pessoas foram assassinadas pela polícia no Rio de Janeiro. Os dados revelam ainda que em 2015, somente na capital, 307 mortes foram causadas por policiais em serviço. 

O diretor da Anistia Internacional Brasil, Atila Roque, informou que o número de homicídios no Brasil chega a 60 mil por ano, o que, segundo ele, significa muito mais vítimas do que qualquer realidade de guerra. A Anistia publicou em 2015 o relatório “Você matou meu filho” denunciando a violência e a violação dos direitos humanos na cidade do Rio de Janeiro.  Segundo o diretor, mais de 50% dessas mortes são de jovens, o que ele chama de um verdadeiro massacre seletivo, onde a maior parte das vítimas tem características especificas: ser negro. 

As abordagens policias também foram criticadas pela Anistia, o que é uma realidade nas favelas. Diariamente sofremos abordagens agressivas, onde na maioria das vezes partem do princípio que, por ser favelado, já pode ser marginal, um preconceito ainda difundido da sociedade. 

Infelizmente, o que sobrou desse projeto de pacificação para as favelas foi apenas homens fardados que, também, perdem suas vidas em uma guerra onde pobre mata pobre. A entrada dos serviços públicos e melhoria das comunidades com a retomada dos territórios continua sendo uma utopia, na verdade uma mentira.

Em meio à nossa realidade política atual no Brasil, nós, favelados, temos que lutar pelos nossos direitos que estão correndo risco de serem extintos com um governo que não foi escolhido democraticamente. Infelizmente, os pobres continuam pagando pelas desigualdades. Não sonho com uma cidade olímpica, mas com uma cidade que seja de fato, de todos nós. Olimpíadas? E daí? 

* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.