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Hip-hop pede passagem nos 50 anos da Cidade de Deus na Avenida

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Cidade de Deus, o conjunto habitacional que marcou época na história do cinema brasileiro, está prestes a completar 50 anos de existência. Erguida após a enxurrada de 10 de janeiro de 1966, noticiada pela imprensa da época como "o maior temporal de todos os tempos", que matou cerca de 200 pessoas, provocou mais de mil desabamentos em vários bairros do Rio e deixou mais de 30 mil desalojados, decretando estado de calamidade pública no estado, resultou na realocação de 63 favelas, removidas por inteiro ou parcialmente. Dessa vez a Cidade de Deus recebe sua primeira homenagem na Avenida pela Mocidade Unida de Jacarepaguá, através do enredo “Cidade de Deus é o Maior Barato – 50 Anos de Cidade de Deus”, tema alusivo ao Funk da dupla Cidinho e Doca, originários da comunidade.

Em sua abordagem histórica, que perpassa pelas as primeiras ocupações de famílias oriundas de favelas, hoje existentes apenas nas memórias de seus primeiros moradores, como é o caso da Praia do Pinto (Leblon) e Esqueleto (atualmente campus da Uerj). O Movimento Cultural Hip-Hop será lembrado em uma das alas destacando sua importância como traço da cultura urbana local, segundo o presidente da escola, Roberto Barros:

“O Hip-Hop exerce uma relação muito forte com os componentes da nossa escola, principalmente o mais jovem. Aqui na quadra, no final dos anos 90, nós tivemos a honra de sermos o palco de lançamento do primeiro CD do MV Bill.As letras do Rap sempre valorizaram nossa comunidade e isso não pode ser esquecido, porque tem a ver parte da nossa resistência cultural”, reconhece.

Produtor de Eventos do gênero e um dos organizadores da Ala do Hip-Hop, Bruno Rafael se sente lisonjeado pela homenagem da escola ao Movimento que milita há 20 anos:

“Eu cresci vendo a Van do MV Bill passar pela minha rua pra buscar o DJ TR... Isso influenciou demais a minha opção profissional. E, dos muitos eventos que fiz, acredito que trazer os Racionais em 2012, após 15 anos desde o seu primeiro show na CDD, e ver a quadra da escola lotada, foi ter a certeza de que o Hip-Hop é uma cultura que contagia positivamente em todos, independente da tribo que segue”, explica, emocionado. 

MC Mingal, que é dançarino do Bonde do Tigrão, rapper e também organizador da ala está convocando a todos para comemorar os 50 anos da CDD na avenida:

“Será uma festa linda, onde o basqueteiro, o skatista, o dançarino do passinho e o charmeiro, se unirão aos grafiteiros, b. boys, MCs e DJs. Isso é o Hip-Hop, a união de todos com as bênçãos do Samba”, define.

Autor do livro “Acorda Hip-Hop”, coordenador do projeto Embaixada Hip-Hop, militante do Movimento há quase 26 anos e responsável pela pesquisa histórica que originou a sinopse deste ano da escola, o DJ TR tenta definir o sentimento de ver o Hip-Hop homenageado na Avenida: 

“Em 92, realizamos o primeiro evento de Hip-Hop do Rio, que contou com a presença de Gabriel O Pensador, ainda no início de carreira. Em 93, fizemos o primeiro programa de Rap em rádio comunitária e numa época em que não se sonhava com uma vaga na grade de uma FM de ponta. Produzir o primeiro show dos Racionais em favela, que desencadeou uma turnê de dois anos pelo estado. O primeiro rapper a popularizar o Hip-Hop de Favela foi o Bill. E o primeiro livro a desvendar a história do Hip-Hop nasceu aqui. Ver o samba nos homenageando na avenida é ter a sensação de um filho obediente sendo abençoado por seu pai”, orgulha-se.

O GRES Mocidade Unida de Jacarepaguá se apresenta nesta segunda-feira (8) pelo “Grupo C”, na Estrada Intendente Magalhães, sendo a 11ª agremiação a se apresentar.

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.