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Afinal, a favela é um problema ou uma solução?

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"Enquanto a favela for vista como problema, não vamos adiante". Foi com essa frase que conclui o diálogo sobre a pacificação realizado pelo Viva Rio em meados de abril.

Afinal, a favela é mesmo um problema?

Ao mesmo tempo que ela é e sempre foi vista como um problema para cidade desde sua origens no então morro da Favela (atual morro da Providência), foram nesses espaços que se abrigaram as pessoas que não tinham onde morar. Então, vejamos aí que a favela foi uma solução para a carência habitacional. Sim, foi uma solução para o grande número de soldados que retornaram vitoriosos da guerra de Canudos em 1897 e se instalaram onde hoje se conhece por morro da Providência, considerada a primeira favela do Rio de Janeiro que completa seus 120 anos.

Além de ter sido espaço para abrigar os soldados, foi a favela que abrigou a grande concentração de negros que lotavam a cidade após a abolição da escravatura. Em 1871 a lei do Ventre Livre lotou a cidade de ex-escravos em busca de uma oportunidade de trabalho. Assim os casarões localizados no centro se transformam em cortiços. Com a demolição do cortiço Cabeça de Porco, em 1893, as famílias foram em busca de abrigo nos morros.

Então a favela foi solução para os soldados e para as famílias pobres. Se na favela se instalaram os pobres, foi o que permitiu para se ter mão de obra barata, fundamental,para construção da cidade. Foi a favela que permitiu que os trabalhadores morassem próximos de seus trabalhos e pudessem atuar nas grandes construções que a cidade passava. Hoje, é o que permite às classes de renda superiores a terem uma babá para cuidar de seus filhos, um porteiro, uma doméstica. São todas as profissões que permitem que enquanto eles se formam em doutores ou façam negócios como empresários, alguém cuide de suas casas e de seus filhos.

Também é na favela que se originam diferentes culturas que representam a cidade e o país. A favela é o berço do samba e de muitos outros produtos culturais que representam o nosso país mundo afora.

A favela só é em parte problema por culpa do descaso de décadas do governo que não Investiu na infraestrutura e na contenção dos limites da favela. E a falta e as carências permitiram a instalação das drogas nas comunidades.

Não se pode negar a importância das favelas para nossa cidade e para nosso país. É preciso coragem e seriedade para que nossa sociedade e nossos representantes entendam e atuem nas favelas como parte integrante da cidade. Ao mesmo tempo que um cidadão morador do Leblon não pisa na lama e não carrega água na cabeça, um morador de favela também não pode pisar nem carregar. Da mesma forma que um morador do asfalto é tratado com respeito pela polícia, nós não podemos ser julgados como marginais. Da mesma forma que a cidade vota, a favela também vota e exige seus direitos.

Enfim, finalizo com a mesma frase que Iniciei "Enquanto a favela for vista como problema, não vamos adiante".

* Davison Coutinho,  morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.