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Como fazer de um jovem um cidadão dentro da favela?

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Em meio a um grande questionamento sobre a redução da maioridade penal, onde as pesquisas pra lá de tendenciosas revelam o horror da quantidade de brasileiros que são a favor da redução, me proponho a colocar algumas reflexões a serem pensadas junto com algumas lideranças importantes da Rocinha.

Como um jovem, morador de favela, mora em um barraco, sem estrutura, sem saneamento, sem pai, sem uma família planejada, onde a mãe passa o dia inteiro trabalhando fora de doméstica para ter um pouco do sustento da família e pagar um aluguel pode ser um cidadão?

É claro que todas essas características não são prerrogativas para que todos sejam criminosos. Não é nenhuma exceção à quantidade de jovens que superam todos esses desafios e se tornam cidadãos do bem, chefes de família, todos trabalhadores. Na Rocinha temos milhares de exemplos de jovens que alcançaram sucesso e venceram todas essas barreiras.

Mas não são todos que têm a condição de enfrentar sozinho  todas essas barreiras que existem dentro da favela. É criminoso não reconhecer o que existem de famílias que passam fome dentro dos morros que separam a favela do asfalto.

“O menino mora num barraco, sem comida, sem roupa e passando todas as necessidades. Como esse menino vai se tornar um cidadão?”, questiona Francisca Elizia Pirozi, líder comunitária na Rocinha.

“... a redução significa lucro para alguns que irão dirigir as cadeias, pois o estado irá privatiza-las. Educação de qualidade sim é uma das soluções, como cumprir com ECA, acesso bens culturais e estimulo ao esporte”, afirma Antônio Firmino, ativista cultural na Rocinha.

“Lamentável. A maioria da população não entende os reflexos dessa atitude. Eu vejo muitos  jovens no meu Facebook que são negros e da favela pedindo redução penal. Eles mesmos são vítima do efeito papagaio. Alguém disse e eles repetem. É de chorar!, diz Michele Silva, ativista social da Rocinha

Na televisão essa criança assiste às propagandas das grandes marcas de roupa, comida, carros celulares e viagens, e na vida real dorme no chão, dividindo um barraco com mais tantos outros familiares. Enquanto querem  culpar as crianças pela criminalidade, não se culpam e não se coloca na cadeia os verdadeiros bandidos dessa sociedade, esses que não moram na favela, que não são pobres, mas exploram e vivem da corrupção que apodrece e o nosso país. Criminoso é criminalizar uma criança pelas criminalidade e pelas injustiças sociais. 

* Davison Coutinho,  morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.