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Crianças perdem a vida sem direito a clemência

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Engana-se quem pensa que no Brasil não temos pena de morte. Incomoda-me a quantidade de gente que se assusta, apenas, com as penas de morte no exterior e não olha para o lado, para as periferias, ignorando a matança dentro das favelas.

A pena de morte existe, sim, e os executados aqui não são apenas aqueles que cometeram algum crime, mas sim os pais de famílias, trabalhadores, mulheres e crianças vitimas da violência nas favelas e periferias de nosso estado.

Em uma mesma semana quantas vidas foram perdidas em nossa cidade! Quantos sonhos desfeitos e quanta dor e lágrimas foram derramadas! Na mira dos atiradores e com alvo marcado no peito não estava um criminoso. Estavam três crianças: um menino de nove anos que se divertia dentro de um clube, uma menina de quatro anos que saía de um restaurante acompanhada de sua família, e um menino de 11 anos morto na comunidade Camarista Méier.

Que crime cometeram essas crianças para um julgamento e um desfecho de vida tão cruel?

Não podemos concordar e aceitar que o direito à vida seja tirado em nenhuma hipótese. E não podemos deixar de nos sensibilizar com a morte em um julgamento de pena de morte. Mas não podemos nos esconder e fechar os olhos com a quantidade de inocentes que são mortos todos os dias com a violência que recrudesce em nossa cidade. São pessoas que perdem suas vidas sem direito a clemência, gente como a gente, não são famosos, não aparecem, muitas vezes são invisíveis, são estatísticas, viram números.

Que Deus conforte essas famílias. 

* Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.