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Cenário sombrio da crise da água dá mais arrepio que mil escândalos da Petrobras

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Após um seminário importantíssimo sobre os impactos das intervenções urbanísticas em favelas, nesse caso específico o PAC, na Fiocruz, tive uma conversa com a pesquisadora da Fiocruz Marize Cunha, sobre um fragmento da fala do novo relator especial da ONU sobre o direito à água potável e ao saneamento, o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais, Leo Heller.

O fragmento em questão discorreu sobre a necessidade de se discutir com mais profundidade as questões ligadas ao abastecimento de água.

Bem, esse assunto sempre me foi muito caro. Primeiro porque a água para quem vive me favelas no Rio de Janeiro é sem dúvida uma das questões mais delicadas desde priscas eras.

O controle destas populações sempre perpassou por suas necessidades mais básicas. A água sempre foi mecanismo de subjugação e manutenção do papel subalterno por parte do poder estabelecido.

Não há cabimento termos ainda no estado do Rio de Janeiro, e por muitas vezes escrevi por aqui, a manutenção da situação marginal de mais de 1 milhão de pessoas, e o que é mais escandaloso, um dos meios utilizados para isso é a água.

É muito estranho ter uma população dessa monta dizendo que quer acessar de forma republicana um dos serviços mais essenciais para o ser humano, que quer pagar por sua utilização e não há qualquer movimento nessa direção.

O Programa Água Para Todos no estado do Rio de Janeiro se mostrou como um caminho para isso, mas de maneira getuliana, forças ocultas o fizeram perder a direção. Aliado à tudo isso, a atual situação dos reservatórios, as condições climáticas cada vez mais preocupantes e o que torna tudo isso uma combinação para lá de explosiva, a tão falada e proclamada ausência de boa vontade política quando se trata desta fatia da população, tornam o cenário ainda mais dramático.

Mas o mais perverso disso tudo é perceber, como diz o rapper Criolo, que os reais culpados são habilidosos em fazer com que o oprimido ainda se sinta culpado por seu sofrimento. 

Tudo isso nos faz pensar seriamente em como as violações aos direitos humanos em nosso país são tão graves quanto aos atentados que nos horrorizam em solo estrangeiro ou ao morticínio de nossos jovens aqui.

É preciso tratar como tal a falta de água que muitas favelas e periferias amargam por meses e anos a fio, sem qualquer sensibilização de quem deveria no mínimo responder de forma mais séria por tais violações.

Antes nas favelas e periferias, ainda haviam as bicas, os córregos, as nascentes. Atualmente, com as intervenções humanas, estas possibilidades estão cada vez mais escassas na alternativa à falta.

Neste sentido, os maiores prejudicados nessa triste história são as crianças, os idosos, os deficientes e as mulheres. Uma análise mais aprofundada dessa questão certamente nos causaria mais arrepios do que mil escândalos da Petrobras.

p.s. A propósito, sobre o  seminário a que me referi no início deste artigo, voltarei à escrever com mais detalhes, pois trata-se do resultado sobre pesquisa realizada por pesquisadores da Fiocruz, a cerca do impacto do PAC nas favelas do Rio de Janeiro.

 "A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!"

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)