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As drogas nas favelas 

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As favelas do Rio de Janeiro estão passando por momentos bastante complicados no quesito segurança. Nos últimos meses a violência recrudesce nas comunidades pacificadas de nossa cidade. O clima de medo e insegurança dos moradores é cada vez maior. Infelizmente, o tiroteio tem sido tão constante e rotineiro que a situação passa a ser vista como natural, o individuo começa a aceitar que é normal conviver em um lugar que é comum ter as paredes da casa marcadas por balas, e que a qualquer momento pode ser vitima de uma bala perdida.

Todo esse terror, motivado pela comercialização das drogas passa por fronteiras, países e cidades e desemboca nas periferias da cidade, onde são os moradores de favelas os maiores prejudicados, já que é ali o reflexo da violência. Tal lugar foi escolhido para tal comercialização pela falta de estrutura e ausência do poder público nas origens da ocupação dos morros.

No entanto, enquanto a violência se instaura nas comunidades, a droga circula as grandes festas, apartamentos e mansões da classe, dita do “asfalto” de nossa sociedade, que também é culpada por cada morte de um individuo sem perspectivas que se envolve com a criminalidade buscando o que não teve. Visando entender o processo das drogas nos jovens de favelas, recorremos a uma extensa pesquisa sobre consumo de crack de um pesquisador de uma renomada universidade americana. 

O neurocientista Carl Hart, Professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, apresentou resultados de pesquisas sobre consumo de drogas que vem realizando há mais de 24.  Hart desvendou diversos mitos sobre o consumo de drogas e as formas de solucionar o problema. Ele fala sobre sua experiência de vida, revelando que nasceu em um bairro pobre, foi traficante e com uma oportunidade se graduou e se tornou professor universitário. Ele atribui sua transformação a possibilidade de ter pessoas que lhe deram as mãos e lhe ofereceram uma oportunidade. 

Para Hart, o uso de drogas é resultado de outros problemas que o individuo sofre por questões da sociedade, principalmente nas periferias. Esses lugares apresentam diversos problemas sociais de emprego, habitação, saneamento, entre tantos outros e por isso, o uso de drogas é intensificado. O problema é que nas favelas muitas vezes não existem alternativas que compensem. Muitos dependentes são pessoas que não enxergam saída na vida e que optam por fugir do estado consciente. 

Assim, enquanto a politica de combate a droga estiver, exclusivamente, centrada no combate ao crime e não no investimento na melhoria da qualidade de vida com opções reais de investimentos sociais será impossível controlar a violência nas comunidades. Os jovens das favelas precisam de oportunidades, precisam ser abraçados e se sentirem inclusos na sociedade de forma que sintam se capazes de vencerem as dificuldades e crescerem de maneira digna e honesta. 

* Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.