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Preconceito racial na Câmara de Vereadores de Rio Grande

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A conjuntura política no Brasil mostra quanto é necessário e urgente consolidar um projeto democrático e popular para pensarmos nos avanços necessários para mudar nossa nação. Precisamos lutar por reformas estruturantes que há séculos desafia e bloqueia o desenvolvimento do nosso país e as potencialidades do nosso povo.

São quinhentos anos de exploração da população negra no Brasil e ainda vemos a injustiça e o preconceitos expressados nos mais variados espaços da sociedade. Bem sabemos que o racismo é promotor da participação diferenciada de brancos e negros nos diferentes dimensões da vida social. Negros e negras das mais variadas faixas etárias vivem em uma constante estigmatização social, cultural e ética. 

Vergonhosamente essa semana o senhor Wilson B. Duarte da Silva (PMDB), vereador da cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, expressou todo o seu racismo e não só constrangeu todo o público presente na Câmara Municipal da cidade como desqualificou toda a luta do povo negro no Brasil.

Na Câmara dos Vereadores ocorria debate a cerca do projeto de lei que reserva de 20% de vagas para pessoas auto-declaradas negras ou pardas a fim de ingressarem no serviço público municipal. Dados divulgados recentemente pelo governo federal demonstram  que a democracia racial é um mito, isso porque as riquezas do país continuam centralizada nas mão de poucas famílias brancas e detentoras do poder. 

O vereador Kanelão, como é conhecido na cidade, realizou um discurso desrespeitando àqueles que lutam pela igualdade reproduzindo todo o seu preconceito: “os negros querem se favorecer, isso que é racismo, afinal os negros já estão quase brancos, estão saindo com loira, polaca, estão comendo em restaurantes…”.

Esse vereador representa a fala de uma parcela preconceituosa da população que está incomodada com a emancipação do povo negro. Nos vemos diante de uma acirrada disputa ideológica frente aos desafios e demandas do nosso povo. Não podemos permitir que os avanços das cotas raciais sejam instrumento de degradação da luta por espaços e direitos da população negra. 

A carta convocatória da reunião nacional  do Coletivo Nacional de Juventude Negra – Enegrecer – descreve o ponto exato do passo que temos que dar:

“A maturidade adquirida e o acumulo conquistado nestes últimos anos nos apresenta o desafio organizativo norteado pela concepção de que a revolução é um processo que ultrapassa o momento da tomada do poder político e abrange outras dimensões da vida social nos apresentando como tarefa o desenvolvimento da disputa ideológica junto aos trabalhadores (em especial os negros/as) para elevar o seu grau de consciência e de organização.”

* Walmyr Júnior é professor. Integra a Pastoral da Juventude e trabalha na Pastoral Universitária da PUC-Rio. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.