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As raposas tomando conta do galinheiro

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O escândalo que envolveu um dos caciques do Rio do Janeiro revelou nessa ultima semana os reais interesses do governador do Estado e do prefeito da Cidade do Rio de Janeiro. Rodrigo Bethlem já ocupou os cargos de secretário de Ordem Pública, Assistência Social e foi secretário de Governo do prefeito Eduardo Paes (PMDB), foi acusado de chefiar um em esquema de corrupção na prefeitura. Sua ex-esposa entregou à Época gravações que ela afirma ser de conversas com Bethlem, que provam as mesadas recebidas pelo cacique do PMDB.

Um dia antes da denúncia em vídeo de campanha política publicado nas redes sociais na última quinta-feira (24), o governador Luiz Fernando Pezão aparece fazendo elogios a Bethlem. "Nós começamos juntos, você é um batalhador. Te conheço muito, você é um grande deputado, acompanhei sua vida toda. Conte comigo. No que eu puder te ajudar nesse vôos mais altos que você vai dar, com certeza eu quero estar do seu lado", diz Pezão. 

Não há duvidas sobre a importância de Rodrigo Bethlem para os projetos do PMDB no Rio de Janeiro, o que fica claro é que esses interesses não atendem à população carioca e fluminense. Essa trupe só pensa nos interesses privados dos grandes donos do capital no estado. É literalmente a raposa tomando conta do galinheiro.

Os convênios com ONG como Tesloo e outras que ocupam o lugar do Estado na cidade, revelam que o cidadão é moeda de troca para grandes interesses financeiros. A população virou mercadoria e estamos sendo comercializados a todo instante. Quem não se recorda do escândalo em 2013 quando o poder público do Rio firmou para ceder a gestão de unidades públicas de Saúde a Organizações Sociais (OSs). Mais de 12 ONGs ainda estão sendo investigadas pelo Ministério Público.

À frente da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social da prefeitura do Rio, Rodrigo Bethlem firmou seis contratos de licitação no valor de R$ 40,1 milhões, com a ONG Casa Espírita Tesloo. Em meio às denuncias feitas pelas escutas telefônicas, Bethlem descreve o favorecimento ao Rei dos transporte Jacob Baratas. Não podemos esquecer que a CPI dos ônibus está parada na Justiça desde julho do ano passado por influência da bancada do PMDB.

Estamos cansados de ver empresários e ONGs lucrando nas favelas com a comercialização da pobreza. Diversos trabalhos são financiados pelo Estado para tampar o sol com peneiras, ou seja, suprir as necessidades da população com soluções paliativas. Enquanto o Estado não se fizer presente de fato, a privatização dos serviços públicos só irá potencializar a política de favorecimento que foi revelada.

Covardemente vemos a implementação de um perfil de governo no Estado do Rio de Janeiro e na Prefeitura da Cidade. Essa lógica sectária exclui a população das tomadas de decisões e financiam as os serviços que deveriam ser públicos. Os favorecimentos políticos e econômicos que somos forçados a engolir não podem continuar. 

* Walmyr Júnior é professor. Integra a Pastoral da Juventude e trabalha na Pastoral Universitária da PUC-Rio. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.