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Qual pobre nunca foi seguido por seguranças no shopping?

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Shopping Leblon, situado em um lugar privilegiado da cidade, em um dos lugares com metro quadrado mais caro do mundo, e frequentado pela elite carioca, com dezenas de lojas de grifes. Nada seria mais perturbador que a presença dos jovens de periferiaque estão se organizando nas redes sociais para dar o famoso “rolezinho” no próximo domingo, o evento já conta com mais de cinco mil participantes.

Para quem ver do alto, com nariz empinadopode até considerar uma atitude de baderna e marginalização, e pode até ser que alguns frequentadores tenham objetivos que não sejam positivos. No entanto, considero que este novo movimento em nossos pais seja a forma que a população tratada como invisível discriminada e que é vista sob o olhar preconceituoso das elites tenha encontrado para mostrar sua força e sua existência.

Qual favelado que nunca entrou no shopping e se sentiu coagido, ou perturbado com a presença de um segurança o seguindo sem nem mesmo disfarçar. Quantos negros e pobres que são despercebidos e ignorados por vendedores treinados para desprezarem os que não se apresentam vestidos da forma que a sociedade exige.

“Os rolezinhos são consequência dos protestos de 2013. Ano passado lutamos por transparência política e transporte de qualidade. Agora a juventude nas favelas está lutando por maiores opções de lazer. Na favela temos pouco lazer. Não adianta reformar apenas quadras esportivas. Queremos a construção de um cinema ou um teatro. Infelizmente estamos vivenciando muitas discriminações o que nos leva a discutir a segregação entre classes sociais. Milhares de pessoas choraram pela morte de Mandela e agora defendem a ação da PM contra os rolezinhos nos shoppings de São Paulo”. Defende Michel Silva, 19 anos e liderança comunitária na Rocinha.

Então, qual é o lugar do pobre?

A onda do rolezinho chegou à Zona Sul e começa a assustar, principalmente pelo shopping escolhido está localizado nas proximidades da Rocinha, Vidigal e vizinho da Cruzada, comunidades com grande população.  Afinal, ninguém quer ver pobre se divertindo. Muitas pessoas, e não são poucas consideram mesmo é que lugar de pobre é atrás do balcão fritando hambúrguer, limpando as mesas e fazendo serviços braçais.

Os rolezinhos devem continuar, é uma chance que os menos favorecidos têm para se expressarem e mostrarem quem tem direitos de comparecerem a um shopping que é aberto ao publico. A diferença de o pobre ir com 5 mil pessoas e não existe, já que quando ele vai sozinho ao shopping com uma roupa qualquer é descriminalizado da mesma forma.” Jefferson Barbosa, 17 anos,  líder estudantil da Juventude e Movimento.

Se devem ou não serem proibidos a justiça irá decidir, a  lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, estabelece que é crime "recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador". Se vão continuar eu não sei, mas já considero uma grande transformação e evolução  a inquietação dos jovens em se indignarem e protestarem contra o preconceito instaurado em um pais de cultura diversificada e formado por raças e etnias diversas. 

*Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.