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Rocinha: governo apela e propõe campanha por PAC 2 para convencer moradores

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O Governo do Rio de Janeiro, que nos últimos 2 meses se manteve em silêncio e suspendeu as reuniões do PAC na Rocinha, sem dar nenhum esclarecimento, se prepara para lançar em dezembro uma campanha em defesa do programa que investirá R$ 1,6 bilhão para obras na favela. 

Tendo em vista a insatisfação dos moradores, com essa campanha o governo tem o objetivo de convencer os moradores a aceitarem as propostas do programa que são criticadas por terem sido elaboradas sem a participação popular. Com isso o governo tem a falsa ilusão de acabar com a forte oposição, principalmente ao Teleférico, conhecido na comunidade como elefante branco.

O governador mais uma vez escolheu uma estratégia sem futuro como forma de convencimento e aprovação de sua reputação junto aos moradores. Não se pode chegar em uma comunidade com propostas e projetos já prontos, o que deve ser feito é um estudo com os moradores das principais prioridades e assim chegar a diferentes caminhos que precisam ser aprovados juntos aos moradores. 

A Rocinha, com a manifestações realizada em junho, conseguiu mostrar suas forças e procurou apoio em órgãos como o Clube de Engenharia, que fez um estudo que comprova que o teleférico não é nossa prioridade. As críticas já chegaram até o Ministério das Cidades, porém o representante do Ministério se negou a comparecer em um encontro com os moradores. Após a manifestação foi formada uma comissão de moradores que foi eleita em assembleia pública e ficou responsável em representar a comunidade. O grupo foi recebido pelo governador e prefeito, no entanto quase tudo ficou na promessa, principalmente pelo governador que não cumpriu nada que prometeu em acordo com tais lideranças.

O saneamento não vai ser 100% então não terá melhorias para toda a população, e outra o teleférico só irá derrubar e desapropriar mais de 6 mil famílias, é melhor modernizar as casas e construir prédios como na rua 4 para os moradores, assim como foi feito na providencia. "Acredito que depois da Copa esse Rio vai ser um 'Deus nos acuda'. Já se sabe que esse teleférico vai se inútil", diz Marcello Farias, Lider do Movimento Salvemos São Conrado e morador da Rocinha

"A campanha do governo é de convencimento para aceitarmos o que nunca foi conversado e para que não tenha atrito com os moradores. É uma abordagem manipulada", afirma José Ricardo Duarte, membro do Rocinha Sem Fronteiras

O Governo afirma que faltam lideranças sérias na comunidade para que sejam feitos os diálogos. No caso da Rocinha, isso é mentira. É claro que temos atores políticos que estão apenas interessados em favores dos governantes, no entanto, temos diversos grupos que discutem e buscam com seriedade melhorias para Rocinha através de lideranças comunitárias comprometidas e honestas, como o Rocinha Sem Fronteiras, Comissão de Moradores da Rocinha, SOS Saneamento entre muitos outros. 

O governador precisa entender, e parece que está difícil, que a Rocinha e as outras favelas mudaram, e mesmo sem apoio do governo os moradores foram à luta e tiveram acesso ao conhecimento e com isso não estão mais dispostos a serem enganados. As pessoas passaram a entender e conhecerem seus direitos, já entendem que não estão pedindo favor ou ajuda, e sim exigindo o que é direito garantido pela Constituição. Hoje a Rocinha possui moradores formados em diversas áreas, pesquisadores e estudantes, enfim, muitas pessoas interessadas que estudam a política e que com toda dificuldade não se vendem por cestas básicas. O cenário mudou e é preciso que se saiba dialogar com a comunidade, já não acreditamos mais em qualquer historinha de político malandro.

“O PAC 2, tão veiculado pelas mídias no qual o grande projeto é a construção de um teleférico nos faz perceber que a ideia do governador vai em direção contrária a ideia dos moradores da Rocinha. Percebemos isso ao analisar o próprio PAC 1, onde não se concluiu o saneamento e a creche, pessoas que foram retiradas de suas casas sofrem até hoje com a falta do aluguel social e a grande especulação imobiliária que toma conta da comunidade, hoje, encarecendo os alugueis de imóveis. Não é possível que o governador que nos recebeu em seu gabinete e prometeu um saneamento de 100% da Rocinha não cumpra sua palavra. Isso foi afirmado em frente às câmeras e toda imprensa que estava presente. Um orçamento como o do PAC 2, tem que ser bem gasto, com projetos voltados para o bem estar e crescimento local e isso não está acontecendo. A opinião dos moradores não está sendo ouvida, as promessas do governador não foram postas em prática, mas estamos acompanhando tudo de perto, dessa vez a voz que durante anos nos foi calada vai ser ouvida”, desabafa Dennis Neves, líder da manifestação organizada pela Rocinha e membro da Comissão de Moradores da Rocinha

Concluo afirmando que precisamos ser ouvidos. Assim, se evitaria a grande insatisfação dos moradores com o governo.  Afinal, como o governador sabe de nossas dificuldades se ele mora de frente para o mar em um dos mais caros IPTU do mundo? É o mesmo que ele falar de transporte público, quando na verdade ele faz uso de helicóptero para se deslocar até mesmo entre pequenos trechos na cidade. É impossível que ele saiba de nossas prioridades. Nós, sim, sabemos o que é morar em uma favela, em casas precárias, sem saneamento, sem condições dignas de vida, sem poder oferecer opções dignas de vida para nossos filhos. Sabemos o que é pagar um dos impostos mais caros do mundo e receber de volta o descaso de nossos governantes que se divertem as custas dos sonhos e do suor de todos nós trabalhadores.

*Davison Coutinho, 23 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Formando em desenho industrial pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.