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Onde está o carteiro na Maré?

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Na maré, os moradores lutam para viver em meio a uma degradação da qualidade de vida. Além de nossas comunidades enfrentarem o descaso dos poderes públicos, somos obrigados a sobreviver em um contexto de violência, de barulho, da sujeira nas calçadas e da falta de transporte coletivo nas ruas, dentre outros problemas.

Uma das preocupações nesses últimos meses é o descaso com nossas correspondências. Sim os moradores das comunidades Salsa e Merengue/ Marrocos, Nova Maré, Parque Roquete Pinto, Marcílio Dias e uma parte do Parque União, não são contemplados pelo serviço da Empresa Brasileira de Correios e precisam buscar suas correspondências nas associações de moradores.

São mais de 25 mil moradores nesta situação. É duvidoso esse atendimento, pois moradores de outras comunidades da maré recebem suas correspondências em suas casas. Já os moradores de outras áreas não recebem. O que falar de um atendimento que define quem é merecedor ou não de receber suas correspondências em casa? É correto afirmar que o morador de uma favela tem mais privilégios que o morador de outra? Ou ainda, que o Morador da favela deve ter menos direitos que o morador do asfalto? Acredito que não.

A Assessoria de Comunicação dos Correios do Rio de Janeiro informou que o Guia de Ruas da Maré, lançado no ano passado, será bastante útil para a entrega das correspondências nas casas.  Mas os correios alegam que essas residências não tem CEP e nem mapeamento.

Em entrevista para o site da ONG Redes da Maré, a articuladora institucional da Redes, Shyrlei Rosendo, ressalta dois pontos importantes: primeiro, a falta de pessoal, pois não há concursos. O outro motivo é a necessidade de todas as ruas terem nomes e as casas terem números. “Alguns locais são novas extensões das comunidades, como ocupações, então é necessário organizar e reconhecer o espaço. Falta planejamento para as favelas”.

Para a implantação do trabalho da distribuição domiciliária nas residências da Maré, além da o­ficialização das ruas pela prefeitura, será necessária a ­fixação de placas indicativas, numeração ordenada dos imóveis e caixa receptora de correspondência localizada na entrada de cada domicílio, de acordo com o estipulado na portaria 567/2011 do Ministério das Comunicações.

Como a Prefeitura não faz o seu serviço, a articulação das Associações de Moradores das 16 comunidades e a ONG Redes da Maré, coordenam o projeto Maré que Queremos. Eles estão com a tarefa de numerar e nomear as ruas, becos e travessas. Após a escolha dos nomes, a Câmara de Vereadores precisará aprovar as novas identi­ficações e aí, então, os Correios geram os CEPs.

A Nova Maré também sofre com a falta do serviço. “Já tentamos um contato com os Correios, que dizem não encontrar os endereços. Essa situação é um transtorno. Esperamos que mude, pois a entrega das cartas é papel do governo”, explica o presidente da Associação de Moradores da Nova Maré, Flávio Aguiar em entrevista para a Redes.

Já na comunidade Marcílio Dias, quem ­fica a ver navios são os moradores dos becos e vielas. “Nós que temos de entregar para que não volte a encomenda, não temos ajuda de ninguém, é um trabalho de formiguinha”, relata a presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias, Jupira de Carvalho Santos. “fazemos o impossível para não deixar a associação fechada e as cartas presas, não temos recursos para contratar um carteiro particular”.

* Walmyr Júnior é graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.