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Rocinha: continua favela ou já é um bairro?

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Após a chegada da Unidade de Polícia Pacificadora na Rocinha, em 2010, foram instauradas diversa regras na comunidade que chegavam a ser exageradas e demasiadamente autoritárias. Eventos e festas eram surpreendidos com a chegada da polícia, que acabava com a diversão de muitos moradores.

No entanto, alguns eventos que perturbavam a população, como bailes e festas de rua foram proibidos de acontecer a pedido de muitos moradores devido ao barulho. Assim, todos os eventos precisavam ser autorizados pela UPP, tarefa que não deveria ser de competência  da polícia e sim a prefeitura que se fez e se faz ausente na comunidade com um fraco trabalho da Região Administrativa na comunidade.

Após a troca de comando da polícia na Rocinha o caos voltou à tona junto com o desrespeito. Bailes e festas estão sendo realizados contra a vontade dos moradores que residem próximos a esses locais. Estão transgredindo a lei do silêncio e o respeito aos que precisam acordar cedo e começar a luta pela sobrevivência com o trabalho.

A prefeitura está ciente dos acontecimentos, porém vem fazendo vista grossa em relação a esses acontecimentos, e nada vem fazendo para instaurar a lei na favela que se tornou bairro em 1995, e de bairro ainda não tem nada. A UPP já não se intromete nessa situação e não circula mais na comunidade.

A dúvida é se o governo e a prefeitura vão continuar fazendo propaganda de que está tudo bem na favela, que está tudo na paz e nós moradores vamos continuar sofrendo com a falta de participação do poder público no  local que está novamente abandonado como era antes.

Obras e melhorias foram prometidas, porém mais uma vez os moradores estão se sentindo enganados. Só estão fazendo fachadas e o que precisa ser feito não é feito, porque não aparece, e se não aparece não consegue voto.

O descaso é tanto que um simples pedido de retirada de uma árvore que está colocando em risco a vida de algumas pessoas e está invadindo as fundações de uma casa e estragando as calçadas da Rua 03, feito há meses à prefeitura, ainda não  foi respondido. Certamente vão esperar uma tragédia acontecer para realizar o serviço. Assim como prédios e casas interditados pela Defesa Civil continuam colocando em perigo vidas, pois ainda não foram derrubados.

Vamos continuar tampando o sol com a peneira e deixar a favela nesse caos ou vão ser tomadas providências no local. Estamos cansados de tantas promessas e depois tudo é largado de mão. A comunidade só aparece linda e maravilhosa nos comerciais, quem está aqui dentro sabe a sensação de abandono que estamos vivendo. Governador e prefeito, estamos esperando uma solução aos nossos problemas, soluções definitivas e não apenas temporárias.  Afinal somos favela ou somos realmente um bairro?

*Davison Coutinho, 23 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Formando emdesenho industrial pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.