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Não adianta só “pacificar”

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Considero morar na Rocinha um grande privilégio. Tenho muita satisfação em poder acompanhar o crescimento e transformação dessa comunidade que esteve abandonada, por muitos anos, pelo poder público e agora começar a ganhar folego e seguir um novo caminho.

Hoje, já não se causa mais um estranhamento encontrar famílias com padrões de vida melhor e com jovens escolarizados, inclusive com ensino superior. Alguns moradores possuem comércios, outros carros e alguns possuem profissões de nível alto, oferecendo para suas famílias uma vida bem mais confortável.

No entanto, não é esse o retrato majoritário da comunidade que ainda é em sua maioria formada por pessoas que vivem na linha da pobreza e consequentemente com baixa escolarização e péssimo estado de moradia.

O que é mais triste de observar é a quantidade de crianças e jovens nas ruas, bebendo , fumando ou se drogando. Crianças que vi ainda de colo e que agora seguem uma vida sem perspectiva, vivendo em um acaso, num estado de vida alienado e sem expectativas para um futuro melhor. São muitos jovens sem oportunidades e incentivo.

A escola não seduz e não atrai o olhar desses jovens, o pior é que os maus exemplos estão espalhados de maneira assustadora, nunca se foi tão “normal” a prática do erro. A maioria das nossas crianças está perdendo suas infâncias, infelizmente os valores e os princípios estão se invertendo.

Cabe às autoridades perceber que estamos perdendo uma grande parcela de jovens com potenciais diversos, que poderiam ser aproveitados e poderiam vislumbrar um futuro promissor. As eleições estão próximas e a única forma que os políticos acreditam que estão ajudando é quando exploram toda essa gente para fazer campanha politica.

Obras de infraestrutura são necessárias, melhorias são bem-vindas, mas é preciso ir mais além, é preciso de uma obra carinhosa, mas é na vida dessa juventude. É necessário que sejam criadas e aplicadas politicas de educação e inclusão desses jovens. Já não queremos mais apenas cursos de garçom, doméstica, manicure, não desmerecendo as profissões, mas esses jovens precisam das oportunidades que tem os que moram nos asfalto. É preciso que se ofereça capacitação, escolas de qualidade, escolas técnicas e acesso ao ensino superior.

Não adianta apenas reprimir o povo instalando policias pacificadoras. É preciso mais, O trabalho precisa ser feito bem antes, precisa ser na educação básica de todas essas crianças. Aposto que com oportunidades e interesse do governo, em educar e criar oportunidades para esses jovens, cada vez menos será necessário se falar em policia. Assim, no futuro poderemos vivenciar uma Rocinha transformada e livre das mazelas sociais.

*Davison Coutinho, 23 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Formando em desenho industrial pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.