ASSINE
search button

Transporte caótico na Rocinha

Compartilhar

Transporte caótico na Rocinha

O secretário de transporte do Rio de Janeiro, Carlos Osório, programou novas linhas de ônibus para Rocinha desde o dia 04 de agosto de 2013. A notícia chegou aos ouvidos dos moradores como uma esperança na melhoria da mobilidade, tendo em vista o péssimo serviço oferecido pela empresa de ônibus anterior.

Apesar de concordarem com a mudança, os moradores lamentaram não ter participado da decisão das escolhas dos novos itinerários, que foram decididos pela Secretaria de Transporte que não soube dar prioridade à vontade dos usuários, fazendo mudanças completamente desastrosas. O secretário pediu um mês para as novas linhas se adaptarem e para realizar possíveis ajustes.

A situação é que o prazo já venceu e o transporte continua caótico. Nos horários de pico, os ônibus transportam pessoas como nem mesmo se transportam animais, uma situação absurda, um acúmulo de gente, uns sobre os outros, infringindo a lei e o limite de passageiros de cada veiculo, enfim um desrespeito total às pessoas.

O secretário voltou a conversar com lideranças comunitárias e prometeu mudanças, mas foram somente promessas. A situação continua a mesma. Entre as reclamações estão: falta de ônibus, cancelamento de uma linha que atendia muitos moradores (linha 546); falta de ônibus durante todo o dia, principalmente à noite; diminuição da frota de vans, além da reclamação dos moradores de São Conrado  e do tumulto dos ônibus na Avenida Aquarela do Brasil, que se transformou em uma espécie de rodoviária de quinta categoria.

Quanto à mudança nos itinerários, o secretário incentiva os usuários a pegar dois ônibus com o bilhete único, o que parece uma solução óbvia. O problema, no entanto, é que, se para conseguir um ônibus já é uma grande dificuldade, imagina dois. Bilhete único funciona em cidade com transporte de qualidade, aqui estamos longe desse padrão.

“É um absurdo! Vejo as crianças tentando voltar para casa da escola e não tem um espaço no ônibus, muitas delas volta a pé, que cidade é essa?”, reclama a professora Aline Silva.

A minha dúvida é se a secretaria de transporte não tem a simples capacidade de ajustar os ônibus para uma favela ou se é descaso por se tratar de uma comunidade. Pois, já foram feitas diversas reuniões/reclamações/sugestões e o problema não é resolvido. Crianças não conseguem voltar das escolas pela falta do transporte, o que desmotiva ainda mais os estudos, idosos e deficientes acabam optando por não saírem de suas casas, e a dura vida do trabalhador se torna ainda mais difícil pela falta de um simples desejo: voltar para casa com tranquilidade.

Será que é tão difícil atender uma comunidade com um transporte com conforto, dignidade e respeito?

*Davison Coutinho, 23 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Formando em desenho industrial pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.