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O emprego que não vem; o desalento que sobra

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A aprovação ao governo Temer continua em sua trajetória declinante; um traço nas estatísticas, um final melancólico, quase uma tragédia, se as vítimas não fossem brasileiros e brasileiras desempregados, milhões desalojados de todas as faixas etárias, democraticamente distribuídos entre brancos, pardos e negros, sendo que os últimos ainda têm em adição a agressão diária que sofrem por injuria, preconceito e abandono, todos tendo em comum o desalento como realidade. As mulheres e os jovens, são as maiores vítimas por conta da realidade adversa de um mercado de trabalho que teima em desaparecer, sumir, evaporar.

A bem da verdade, as razões para a situação crítica da economia brasileira não podem ser creditadas unicamente ao triste governo que chega ao fim no dia 31 de dezembro de 2018. Os descaminhos e desacertos têm início no governo anterior e na sucessão de equívocos, quase infantis, conduzidos pela gestão do ex-ministro da fazenda de Temer. Figura paroquial, centrado em uma visão egocêntrica do mundo, responsável por uma administração abjeta e voltada para a cooptação de parlamentares, subordinação aos interesses de setores empresariais e refém do apoio de rentistas e castas.

A gestão de Meirelles/Temer, de fato, não atacou a questão fiscal, a despeito da enorme campanha midiática em torno da austeridade, com amplo apoio de setores da imprensa, ao mesmo tempo que escorou e defendeu uma reforma trabalhista que pode ser desejada enquanto norte, mas foi inconsequente e ineficiente como remédio.

A economia brasileira precisa urgentemente de um choque de credibilidade no âmbito privado e de produtividade na gestão do Estado, o que só é possível com um governo que tenha de fato uma opção preferencial pelo combate ao déficit público não como uma forma de retórica vazia e oportunista, mas como um projeto de Estado.

A diminuição do tamanho da máquina pública contida nos desperdícios decorrentes de uma administração centrada nos seus próprios interesses, como presenciamos nos aumentos recentes dos salários dos membros superiores do STF e do MPF, é uma das opções necessárias e urgentes nesse combate.

O combate aos privilégios e privilegiados torna-se imperativo. Atualmente, a relação entre trabalhadores com carteira assinada e prestadores de serviços, funcionários de estatais e servidores públicos é de quase três para um, e a informalidade, o subemprego e o emprego precário são resultantes de tais desperdícios alocativos de recursos.

A taxa de investimento bruto no Brasil caiu a praticamente a metade ao longo dos últimos dez anos. No mesmo período, o investimento público e a formação bruta de capital fixo, como proporção do PIB, tiveram um decréscimo de 65%. Como proporção do PIB, os chamados gastos com pessoal - salários de servidores - não sofreram grandes mudanças, mas essa estatística pode conter um viés, pois, enquanto o salário do empregado do setor privado sofreu uma perda real no período, os “vencimentos” dos servidores públicos tiveram um ganho real em todo o período. Aqui encontramos a natureza perversa dos malefícios das aposentadorias precoces do setor público, onde cerca de um milhão de pessoas percebem um montante de recursos equivalente a quase vinte milhões de brasileiros que se aposentaram pelo sistema de seguridade social (INSS).

O futuro sem empregos; a instabilidade do trabalho convencional

O tema do desemprego alto em si já é um problema grave, mas que piora quando adicionamos a questão da incapacidade de contribuição para a previdência por quase dois terços da população em idade laboral. Assim, estamos criando uma geração de pessoas desprotegidas e números anônimos do sistema de benefício social no futuro, com enormes e terríveis impactos ao longo dos próximos anos, pela precariedade dos serviços de saúde estatal.

O desempregado e o subempregado de hoje são o idoso indigente de amanhã, que vive e sobrevive sem qualquer segurança e proteção oficial e sem opção para reagir e participar ativamente da economia ou de ter acesso a situações que lhe assegure dignidade e respeito.

O tamanho do problema do desemprego pode atingir maior gravidade quando analisamos os efeitos prováveis das tecnologias disruptivas em curso, em especial os impactos sobre a geração de empregos formais no setor de serviços e comércio. Seguindo o mesmo caminho, deparamo-nos com a queda expressiva na geração de emprego na indústria, pela mudança em métodos de produção e alterações em processos produtivos, com a implantação de robôs em grande escala nas fábricas (indústria automobilística).

O setor de serviços será o grande beneficiário de arranjos tecnológicos intensivos em tecnologias digitais e conexões entre a geração de serviços e o uso de sistemas de inteligência artificial, com destaque para os serviços bancários, de seguros, notarias, intermediação, varejo e comercialização de produtos de massa. Os ganhos de escala e a redução de custos podem representar um aumento expressivo na oferta de bens para consumidores e lucro para empresários, valores capazes de reproduzir em outra dimensão os benefícios da primeira, segunda e terceira revolução industrial.

A chamada Revolução 4.0 pode exterminar milhões de empregos tradicionais e acabar com dezenas de profissões e ofícios. Tudo isso em um curto espaço de tempo, inferior a uma década.

Tecnologias disruptivas em curso tem como princípio destruir o mundo “antigo” e moldar comportamentos e processos produtivos em escala global, o que torna praticamente impossível criar mecanismos de defesa e proteção para suavizar as transformações em curso e seus efeitos. Disso emerge o grande impacto sobre países emergentes, que, ainda carentes de empregos de baixa produtividade, são obrigados a incorporar tecnologias pela via do comércio internacional e a defesa da competitividade nacional, que acabam por reduzir a oferta formal de emprego não especializado e provocar mudanças na distribuição de rendas e desorganização na produção vinculada a setores tradicionais.

Caro leitor, o tema em exposição é o assunto mais importante a ser enfrentado por todo e qualquer candidato à presidência da república ou cargo no legislativo federal ou estadual. Em síntese, é a busca da resposta à seguinte pergunta: como o(a) candidato(a) pretende enfrentar a questão do emprego e da empregabilidade em um novo mundo hostil ao passado e fonte de mudanças revolucionárias na forma de gerar renda, comercializar serviços e cobrar impostos? Essa deve ser a prioridade número um na agenda de qualquer candidato sério e responsável.

A transição entre dois momentos do tempo exigirá formas diferenciadas de atuação do Estado, com governos mais eficientes e menores custos da máquina pública. Eleições gerais são momentos de definição de políticas e de alinhamento na função estala de distribuição de encargos e de escolhas entre opções de políticas públicas que produzem impactos sobre os diversos grupos de interesse da população e tendem a explicitar conflitos de classe, tensão entre gerações e disputas entre regiões da federação.

No dia 7 de outubro, estará nas suas mãos a responsabilidade pela escolha, entre algumas opções, daquela que pode determinar um futuro melhor que somente você pode ajudar a construir.

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economia