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O fracasso como destino

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A naturalidade com que o Flamengo passou a encarar derrotas e seguidas desclassificações nos campeonatos que disputa é a principal marca das administrações de Eduardo Bandeira de Mello, que em cinco anos e meio disputou 23 competições oficiais, ganhando míseros três títulos – dois carioquinhas e uma Copa do Brasil. É pouco, quase nada, quando se leva em conta o altíssimo investimento que tem sido feito no futebol.

É sintomático que, mesmo com uma rotatividade alucinante de técnicos e jogadores, na era Bandeira, o time do Flamengo tenha tido sempre a mesma cara: muito toquinho de bola para os lados e para trás, pouquíssima eficiência no ataque (movido acima de tudo a chuveirinhos) e carência absoluta de talento em posições fundamentais, como as laterais.

Assim, revezes como o de quarta-feira passada, na Libertadores, foram se sucedendo e, o que é mais grave, sendo encarados como normais. Como se a marca histórica do rubro-negro não fosse “vencer, vencer, vencer”, mas “perder, perder, perder”. Sem traumas!

Com a maior desfaçatez, dizia-se ao final do ano passado que o saldo da temporada fora positivo, pois o Fla chegara às finais de três competições e ganhara uma. Venceu a menos importante (o Me Engana que eu Gosto estadual) e deixou escapar as mais valiosas (a Copa do Brasil e a Sul-Americana). Desde quando isso é algo que mereça comemorações ou autoelogios? Só mesmo na atual administração.

Dizer que o Flamengo jogou bem, na segunda partida contra o Cruzeiro, no Mineirão, é uma vez mais tentar dourar uma pílula indigesta. O time de Maurício Barbieri, de fato, teve mais posse de bola, mas as melhores oportunidades de gol foram todas da equipe de Mano Menezes, que poderia ter vencido, tranquilamente, se Barcos e Thiago Neves não tivessem perdido duas chances claríssimas, quando o placar ainda estava 0 a 0 – na segunda, méritos para Diego Alves, que fez grande defesa.

Depois da partida e da desclassificação (a terceira, na Libertadores, com Bandeira de Mello!), o que fez o técnico estagiário Maurício Barbieri? Disse que gostou do jogo e deu parabéns aos seus jogadores! Por uma magra vitória que não valeu nada! E o balanço desastroso, na competição mais importante do continente? Classificou-se em segundo na chave de grupos e caiu no primeiro “mata-mata”. Desde quando isso é digno de elogios? Só mesmo para quem não tem noção do que é o Flamengo.

O esquema inofensivo

Os centroavantes se sucedem, são crucificados (não que alguns não mereçam as críticas) e ninguém vê que o maior problema do ataque do Flamengo não é o camisa nove, mas o esquema, o estilo de jogo, que começou a ser implantado lá atrás, por Zé Ricardo, e tem sido “aperfeiçoado” por Barbieri.

O rubro-negro tenta jogar como o Barcelona, de Guardiola, sem ter um milésimo do talento daquele elenco no qual pontificavam Xavi, Iniesta e Messi, cercados por outros jogadores de altíssima qualidade. O resultado? Não conseguem concluir as tramas ofensivas, ficam só no toquinho improdutivo, pra lá, pra cá e pra trás e tome de chuveirinho. Qualquer centroavante vai penar assim.

Ainda mais num time sem laterais de verdade. Na esquerda, Renê raras vezes vai à frente e na direita, Rodinei é o caos de chuteiras. Corre sem parar, mas não consegue ser minimamente eficiente no ataque e deixa um corredor aberto às costas, por onde o Fla tem sofrido gols sem parar.

É inacreditável que o treinador e os dirigentes do futebol não tenham percebido isso – e que nada façam para mudar as características de uma equipe que, pelo andar da carruagem, acabará perdendo também a Copa do Brasil e o Brasileiro. E será parabenizado por isso.

Essa turma pode ser muito boa em finanças, mas, definitivamente, não é do ramo do futebol. Nem mesmo entende o que é o Flamengo.

O problema do calendário

Com toda razão, os jornalistas esportivos têm criticado com veemência o calendário do nosso futebol, focando-se principalmente na questão das datas Fifa provocarem desfalques nos times brasileiros, o que não ocorre no resto do mundo, que paralisa os seus campeonatos.

O que não se fala – e a turma do sistema Globo não pode abordar – é que isso tudo começa com exigência da mais poderosa rede de TV do Brasil, detentora dos direitos das principais competições no território nacional, de que nossos torneios não sejam interrompidos, pois isso não lhe interessa do ponto de vista comercial e de audiência.

Explico: os amistosos da seleção são, em sua imensa maioria, em dias e horários diferentes dos usados pelos nossos campeonatos, o que causaria “buracos” na programação e no plano comercial da emissora. É muito mais lucrativo ter a seleção e os campeonatos em atividade ao mesmo tempo. Que se danem os clubes, vaquinhas de presépio que não têm coragem de discordar, porque vivem das cotas pagas pela TV. E assim a nave vai. Rumo ao naufrágio.

Por que não?

Com Flamengo e Corinthians eliminados da Libertadores, não há motivos para que o jogo entre eles, na primeira parte da semifinal da Copa do Brasil, não seja adiado do dia 12 para o dia 19 (data que ficou vaga para ambos). Interessa a ambos (que têm jogadores convocados que não poderiam jogar no dia 12) e se algum outro clube se opuser, será por mesquinhez, já que ninguém será prejudicado com tal mudança.

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futebol