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Virou campanha

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Jair Bolsonaro continua líder nas pesquisas mas enfrenta uma conjunção negativa na reta final. A pesquisa Ibope de anteontem o manteve à frente, com 28%, mas com o petista Fernando Haddad nos seus calcanhares (22%), derrotando-o no segundo turno e sua rejeição disparando para 46%. Esta rejeição, antes difusa, agora tem a forma concreta de movimentos pluralistas contra sua eleição, tais como o #Elenão, uma iniciativa de mulheres, e o manifesto #Democraciasim. Contra estes dois estigmas, sua campanha hesita em lançar a carta aberta em que ele negaria as acusações de machismo, exaltando o papel das mulheres, e firmaria compromisso com a democracia.
O selo de machista já levantou, contra Bolsonaro, a barreira colossal que ele enfrenta no eleitorado feminino. Embora tenha mantido os 28% de preferência nacional no último Ibope, entre as mulheres seu índice foi de apenas 14%. A média foi compensada pela preferência disparada entre os homens.
No sábado, 29, o movimento #Elenão, que ganhou até a adesões de artistas e personalidades internacionais, fará manifestações em todo o país contra Bolsonaro, buscando manter seu caráter suprapartidário. As sambistas Beth Carvalho e Teresa Cristina estão com um vídeo rodando intensamente pela Internet, convocando para o ato do Rio. Mas o que cresceu nas últimas horas foi o número de signatários do manifesto Democraciasim, ampliando a percepção de que a eleição de Bolsonaro colocaria em risco a ordem democrática que o país vem construindo, a trancos e barrancos, após 21 anos de uma ditadura que ele exalta e até nega que tenha sido ditadura.
Ontem, o site do Democraciasim.com.br, que hospeda o manifesto e recebe assinaturas, ficou fora do ar algumas após ter sido raqueado, impedindo o fluxo de adesões. O “compartilhaço” programado teve que ser adiado para hoje. Assinam o manifesto intelectuais, artistas, empresários e personalidades que se declaram diferentes em suas origens e trajetórias, eleitores de partidos diversos, mas que se unem diante da ameaça representada por Bolsonaro. “É preciso dizer: mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós.” No final do dia de ontem as adesões beiravam as cem mil assinaturas.

Letalidade
Até aqui, Bolsonaro nunca perdeu voto com seu jorro de manifestações politicamente incorretas. Pelo contrário, ele cresceu eleitoralmente encarnando o pensamento conservador que mistura moralismo e preconceito, falando mal das mulheres, dos negros, dos homossexuais, e exaltando ditaduras e torturadores. Vem tentando recuperar-se com as mulheres, depois que viu o tamanho da barreira por elas levantada contra sua candidatura mas ontem ele esbarrou no próprio passado: o jornal Folha de S. Paulo divulgou telegrama diplomático de 2011, relatando que sua ex-mulher, Ana Cristina, que se mudara para a Noruega com o filho cuja guarda disputava com o pai, relatara ter sido por ele ameaçada de morte.
Se até aqui Bolsonaro cresceu carregando os selos de machista, racista e homofóbico, no segundo turno a ideia de que representa uma ameaça à democracia pode ser letal. Contra ela é que se pensou na carta aberta, que já tem até um esboço escrito pelo general Augusto Heleno mas a equipe ficou dividida. Alguns acham que ao lançar um documento assim, jurando ser democrata, Bolsonaro estará dando a mão à palmatória e mostrando fraqueza diante da ofensiva. Enquanto eles discutem, a campanha segue seu curso e tende a engrossar.

Ciro presente
O candidato do PDT, Ciro Gomes, passou por um procedimento de cauterização de vasos da próstata ontem em São Paulo, mas sua assessoria assegura: ele deixará o hospital hoje e participará, à noite, do debate STB/Folha de S. Paulo.