Na véspera de viajar para Brasília para a cobertura da posse do presidente eleito, Tancredo Neves, amigo impecável, procurei o Pai Jerônimo, ascensorista da Câmara de Vereadores de profissão e com um terreiro na Tijuca, onde testemunhara com a minha mulher Regina miraculosas curas que nunca consegui explicar. Conosco a dona Marly, esposa de José Sarney.
Pai Jerônimo recebeu-nos com a amabilidade de sempre para surpreender-me. Quando se virou para dona Marly, disse que ela seria a primeira-dama. No dia seguinte iria Brasília para assistir à posse de Tancredo.
Voltei ao Pai Jerônimo. Falando baixo, passou o aviso: “Não estou vendo a posse de Tancredo”. Fui ao fundo do poço: “Mas, Pai Jerônimo, Tancredo Neves toma posse amanhã”.
Insistiu: “Não estou vendo Tancredo Neves na Presidência”.
O resto da história é conhecido: Tancredo escondeu até onde pôde as cólicas abdominais, até ser levado ao hospital de Brasília, acompanhado pela charola dos amigos e basbaques para a série de operações que o condenaram a morte.
O vice José Sarney assumiu. E não por simples coincidência. Meu amigo Tancredo Neves jamais soube do aviso de Pai Jerônimo.
Em outras ocasiões procurei o Pai Jerônimo. Ele nunca errou, seja comigo ou com amigos.
Lembrei-me do Pai Jerônimo diante do tsunâmi de azar que assusta as seleções brasileiras nas derrotas que desclassificaram, no mesmo dia, as seleções masculina e feminina do Brasil, nos mundiais.
A seleção da Marta, a melhor jogadora do mundo, depois de estar vencendo a seleção dos Estados Unidos por 2 a 1, cedeu ao empate nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação e acabou perdendo nos pênaltis por 5 a 3. Marta deixa o Mundial da Alemanha com quatro gols marcados.
E com o consolo de estar ao lado da americana Birgit Prinz, a maior artilheira da história das Copas do Mundo femininas.
Um triste consolo na coleção de azares, que só o Pai Jerônimo saberia exorcizar.