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Agora, os escombros

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Depois de quebrar a espinha do governo, que se rendeu em pânico no domingo à noite, atendendo a todos os pleitos, a greve caminhoneira persistia ontem, por vários motivos. Entre eles, a existência de focos seduzidos por agentes da extrema-direita com a pregação de que a resistência derrubará Temer e trará o golpe militar. Isso é real, sobram evidências. Outro motivo, a percepção de que o acordo negociado, apesar do custo altíssimo, é uma meia-sola, pois o problema voltará. Vai estourar no colo do próximo governo mas os candidatos a presidente se esconderam, fugiram do assunto. Mau sinal.

A normalização da vida será lenta num país que esteve à beira do infarto, com as artérias vitais bloqueadas. Se o governo não tivesse errado tanto, a greve justa poderia ter sido mais curta, com menor custo e a restauração mais rápida. Houve a indiferença inicial aos pedidos de negociação, nos dias 14 e 16, depois a precipitação na quinta-feira, 24, quando o Planalto fechou um acordo sem garantias, com parte das entidades. Na sexta-feira Temer falou grosso, mandando tropas às estradas, e no domingo falou fino, entregando os pontos.

Agora vêm os problemas para tirar do papel o acordo que não passa de uma pinguela. Num movimento disperso e sem comando unificado, caminhoneiros renitentes diziam ontem que o desconto de R$ 0,46 no preço do diesel era pouco mas a maioria quer ver logo é o resultado na bomba. Não será fácil para o governo garantir que os donos de postos observem a diferença trazida pela não cobrança da CIDE e do PIS-Cofins. A Petrobras poderia ajudar, sem que isso significasse ingerência. Sob Dilma, e depois sob Temer, os bancos privados continuaram cobrando juros altíssimos apesar da queda na taxa Selic. Baixando seus juros, os bancos públicos (CEF e Banco do Brasil) ajudaram a puxar para baixo as taxas dos outros. A BR Distribuidora, em sua rede de postos, poderia seguir o exemplo. Os distribuidores privados terão que também honrar o acordo ou perderão clientes. 

O Senado entrou pela noite votando matérias que trancam a pauta para chegar logo às MPs do acordo mas haverá uma batalha. A oposição proporá a busca de outras fontes de recursos para bancar o subsídio do diesel, como antecipa o senador Lindbergh Farias, do PT. “PIS-Cofins são contribuições que financiam a seguridade social. Então, em vez de tirar dos mais pobres, proporemos elevar de 20% para 25% a contribuição sobre o lucro dos bancos. E ainda suspender, até o final deste ano, a isenção fiscal dada às petroleiras, e só isso garantirá uma receita de quase R$ 8 bilhões”. Como a base do governo, de esgarçada passou a rota nesta crise, haverá peleja. Qualquer sinal de rompimento do acordo pode virar faísca. 

A votação da MP que proíbe a cobrança de pedágio de caminhões vazios será problemática mas este problema será empurrado. As concessionárias privadas de rodovias estaduais ou federais vão exigir mudanças em seus contratos, que não previam esta perda de receita. Muito provavelmente, vão pedir aumento no preço dos pedágios. Pagaremos todos.

O acordo é meia-sola porque apenas ganha tempo. Depois do congelamento do preço do diesel por 60 dias, com desconto de R$ 0,46, os aumentos serão mensais até o final do governo, o que custará o rombo de R$ 10 bilhões. Mas para depois, não há solução. Uma ação popular foi apresentada ao MPF ontem por várias entidades pedindo a suspensão do leilão do pré-sal marcado para o dia 7 de junho e mudança na política de preços da Petrobras. O fogo contra Pedro Parente continua alto, agora com nova denúncia envolvendo um sócio. A Comissão Geral que o Congresso fará hoje, com a participação dele e do ministro Moreira Franco, será termômetro da nova temperatura política.

Sobre tudo isso, sobre o que farão se eleitos nesta área, e mesmo sobre a conspiração golpista, que parece muito amadora, não vimos os presidenciáveis se pronunciar.