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O fator econômico

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Se o ex-presidente Lula não estivesse com sua candidatura inviabilizada pela condenação veloz do TRF4,  o mercado estaria falando em “risco Lula”, como em 2002.  Na falta de outro culpado, ainda pode sobrar para ele,  por continuar favorito 40 dias depois de ter sido preso. Certo é que o Banco Central, calculadamente ou não, esperou passar o foguetório do presidente Temer, pelos dois anos de seu governo de “muitas vitórias”, para disparar dois jatos de água fria: o Copom manteve os juros de 6,5% inalterados e o boletim IBC-BR informou que a economia encolheu 0,74% em março, perfazendo uma retração trimestral de 0,13% em relação ao último trimestre de 2017. 

E assim começam a naufragar as projeções econômicas otimistas para este ao, agregando um fator novo e importante a uma disputa eleitoral das mais singulares e incertas.  Nas últimas semanas as moedas de economias emergentes sofreram acentuada desvalorização por conta da primeira alta de juros nos Estados Unidos,  numa indicação de que está chegando ao fim o período de juros baixos nas economias centrais.   A Argentina foi dos países mais atingidos e bateu às portas do FMI. Aqui, na periferia do capitalismo, isso significa fuga de investimentos, pressão inflacionária com a alta do dólar, que embora favoreça as exportações, também inibe a atividade econômica. A freada na queda dos juros foi antecipada e a retração foi pior do que a esperada pelo tal mercado, dizem os analistas econômicos. 

Este novo quadro afetará a campanha. A economia ganha nova força como eixo da disputa e os defensores da manutenção da agenda do governo Temer, se já eram fracos, ficam mais desprovidos de discurso. Especialmente Henrique Meirelles, que embora já tenha deixado o cargo, apresenta-se como salvador da lavoura. Meirelles, aliás, levou uma bordoada do coordenador do programa de Ciro Gomes, economista Nelson Marconi, por ter dito que candidatos como ele e Marina Silva geram insegurança por  não se comprometem com a agenda de reformas de Temer. É a busca do culpado. Marconi respondeu, na Folha de S. Paulo, que Meirelles/Temer não aprovaram a reforma previdenciária, criaram um teto de gastos que será furado e só aqueceram mesmo a economia com a liberação do FGTS.

As novas e más notícias na economia são um peso a mais na balança eleitoral em favor do polo de oposição e de centro-esquerda – onde estão o PT, seja com quem for, Ciro e Marina. Piora a situação do rachado bloco dos partidos que fizeram o impeachment e sustentaram Temer, o chamado centro, que evita a palavra direita.  E por fora, segue firme Bolsonaro.

SANTINHO COM MORO 

O que o Brasil está colhendo em matéria de combate à corrução  é fruto da Lava Jato, e isso rende ao juiz Sergio Moro homenagens como o prêmio que recebeu anteontem. Mas boa parte do que o Brasil está vivendo, em matéria de desarranjo  democrático,  institucional e econômico, também é fruto da Lava Jato, e isso rende ao juiz Sergio Moro escrachos como o de ontem, quando palestrava para empresários ainda lá em Nova York. 

O juiz considerou uma “bobagem” as críticas que recebeu nas redes sociais por ter posado ao lado do ex-prefeito e candidato a governador  tucano  João Doria, criador da entidade que patrocinou a palestra de ontem, a Lide. Da fotografia com Aécio Neves aos cochichos ele disse ter se arrependido  (pelo reforço que deu à percepção de que a Lava Jato é seletiva, certamente).  Mas o caso com Dória é mais grave, porque ele é um candidato em pré-campanha. Retratos com candidatos, nesta  época,  fazem as vezes de manifestação de apoio. Na relação com partidos, o recato dos juízes deve  ser ainda maior.  Talvez  Moro ainda conclua que “bobagem”  foi  ter posado com Dória.

CIRO EM PAUTA 

Os governadores  do PT se reúnem amanhã para avaliar a conjuntura. Na verdade, a clausura eleitoral do partido, que não pode abandonar Lula agora mas teme perder a hora para apoiar Ciro Gomes.