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Mais incerteza

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 Joaquim Barbosa não se dispôs a entrar na selva eleitoral, comprometendo seus arranjos profissionais e financeiros e seu conforto pessoal, ele que detesta ter a vida futricada.  Sem ele, o quadro muda mas a incerteza é que cresce. Não haverá um ganhador em particular mas crescerá também o desespero da centro-direita fragmentada, que mesmo desconhecendo as ideias de Barbosa,  via nele alguém que, na falta de outro,  poderia representá-la num segundo turno, contra a esquerda ou contra Bolsonaro. É desse desespero que podem surgir as tentações por uma saída fora da eleição. 

Os 10%  de eleitores que, na última pesquisa Datafolha se dispunham a votar em Barbosa, agora devem refluir para  outras candidaturas.   Uma parte deles retornará ao lulismo, seja quem for que o venha representar, como principal polo anti-establishment.  Outra deve sobrar para Ciro Gomes, que neste momento é visto como ponto de convergência por setores da esquerda e da direita.  Marina Silva e Bolsonaro certamente serão beneficiados, pois mesmo sendo políticos profissionais, são percebidos como diferentes pelos que buscam renovação.  Alguma coisa sobrará para Alckmin, ainda que não baste para a decolagem. Em que proporções se dará a divisão só uma nova pesquisa dirá mas a decisão de Barbosa pode dar impulso aos esforços por realinhamento que estão na praça. 

Na esquerda, despontam defensores de uma unidade com Ciro, contra a decisão do PT de levar a candidatura de Lula até à linha final.  O que era meio murmurado ganhou ressonância com a declaração do governador do Maranhão, Flávio Dino, que ao propor apoio a Ciro atropelou não apenas os aliados petistas mas também a candidata de seu partido, o PC do B, Manuela D’Ávila. Lá de Curitiba, através do visitante Leonardo Boff , Lula mandou avisar que continua candidatíssimo.

Na direita, há movimentos paralelos. Alckmin continua avançando em direção a Temer e ao MDB.  Deve ser advertido sobre o risco do beijo da morte na reunião de hoje da Executiva do partido. Menos propensos ao suicídio, outros partidos que ajudaram o MDB a derrubar Dilma e a colocar Temer na Presidência buscam saídas de emergência.  Rodrigo Maia, do DEM,  conversa com Álvaro Dias e Flávio Rocha PR sobre uma aliança sem tucanos e emedebistas, enquanto PP e PR cogitam sobre uma aliança pouco provável com Ciro.  Na planície,  parlamentares do PSDB, PPS, PTB e similares preparam um manifesto liberal-reformista a ser proposto aos candidatos deste polo, prevendo o afunilamento de candidaturas na época das  convenções, em julho. 

Estes movimentos, entretanto, não resolvem o drama da centro-direita. Se Alckmin se alia a Temer, ganha o tempo de televisão do MDB, o apoio da máquina federal e o dever de defender seu governo rejeitado.  Mas a coalizão de direita sem Temer e os trunfos propiciados pelo MDB, e não dispondo de um nome reluzente, será um soma de nanicos.  Todos estes partidos são associados ao governo de Temer e ao impeachment de Dilma. Hoje, 47,9% da população, segundo pesquisa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, núcleo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INTC), acham que ela sofreu um golpe parlamentar.  Tudo somado, a conta chegou. 

Por isso digo que na falta de saídas para a direita pode morar o perigo. Barbosa, em entrevista a Lauro Jardim, em O Globo, listou suas três maiores preocupações:  vitória de Bolsonaro, golpe militar ou um arranjo continuísta com Temer, que significaria o adiamento da eleição. O assanhamento militar continua: ontem o general aposentado Paulo Chagas perguntou numa rede social se os ministros do STF que julgam o recurso de Lula tomarão o partido do Brasil ou do crime.  E Temer topará qualquer coisa que lhe mantenha o foro especial. Ontem mesmo a Lava Jato voltou a mirá-lo em nova operação envolvendo propina da Odebrecht em contrato com a Petrobrás.