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Dois tiros

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Em nenhuma outra eleição, depois da redemocratização, o Judiciário foi parte tão determinante do processo eleitoral. Nas últimas horas, os  tribunais impuseram duros revezes ao  presidente Temer e ao ex-presidente Lula, que terão incidências importantes na disputa.   A rejeição, por unanimidade, do pedido de habeas corpus preventivo apresentado por Lula ao STJ era fava contada mas aumentou, para o petista, o risco de ser preso. Já a  quebra do sigilo bancário de Temer,  autorizada pelo ministro Roberto Barroso, do STF, faz desandar o projeto de turbinar sua aprovação com a agenda popular da segurança, em busca de capital político que lhe permitisse disputar a reeleição ou patrocinar um candidato governista. 

Lula passou a depender unicamente do STF para não ser preso quando o TRF-4 concluir a análise de seus recursos. Pode ser em breve. Como a presidente da corte, Cármen Lúcia, parece determinada a não pautar as ações sobre a constitucionalidade da prisão após condenação em segunda instância – que não tratam do caso de Lula mas de um princípio constitucional –  o caminho se estreitou. Para que o plenário examine logo o assunto, um ou mais ministros teriam que levá-lo  à mesa do plenário, forçando a apreciação. 

Neste quadro, nem mesmo um ganho eleitoral, como o trazido pela pesquisa CNT-MDA,  serve de compensação. Na série, ele tinha 32,4% em setembro, e agora 33,4%.  Quando é  substituído por Fernando Haddad, Bolsonaro passa de 16,8% para 20%, e Marina é quem mais cresce: de 7,8% para 12,8%. Se Lula  for preso, e mofar na cadeia durante a campanha, seu plano B fará água. Não haverá transferência de votos por osmose. Mas se for preso e depois for solto por uma decisão do Supremo, pode fazer limonada do limão, turbinando o discurso da perseguição a favor de seu candidato.

O revés de Temer, com a quebra de seu sigilo bancário  autorizada pelo ministro Roberto Barroso,  afeta fortemente seu plano de voo.  Na citada pesquisa, a rejeição seguiu alta (73,3%) mas ele obteve ligeiríssima melhora em sua aprovação, que passou de 3,4%  para 4,3%, refl etindo talvez o primeiro impacto da intervenção no Rio e da nova agenda “tudo pela segurança”.  Mas com a quebra de seu sigilo,  medida jamais tomada em relação a um presidente no exercício do cargo,  ele volta ao pior dos mundos. O estigma de corrupto ganha novo realce,  pois o que a PF procura é prova de recebimento de propina pela edição do decreto dos portos. Mas Temer também pode fazer limonada do limão, caso a divulgação de sua movimentação bancária o inocente. O que não signifi caria nada, pois ninguém recebe propina em sua própria conta bancária. Para isso existem os laranjas, os operadores, e não faltam acusados de fazerem este papel para Temer. Mas ele poderia fazer uso deste atestado, seja para concorrer, seja para patrocinar um candidato governista. Nesta altura, vai  restando apenas o ministro Henrique Meirelles para fazer este papel.  Rodrigo Maia, do DEM, chegou a 1,4% na pesquisa (Temer a 1,3%) mas ele já veste outra camisa, a de candidato de centro independente.

CAFÉ COM LEITE 

Geraldo Alckmin fez recentemente um apelo ao senador tucano Antonio Anastasia para que concorra ao governo de Minas, segundo maior colégio de votos, onde precisa desesperadamente de um bom palanque. Anastasia resistiu. Agora, surge a hipótese de que ele venha a ser o vice na chapa de Alckmin, numa reedição da velha política “café com leite”.  Rezam as cartilhas políticas que a vaga de vice deve ser oferecida a um partido coligado mas isso é relativo, diz um mediador tucano.  Aliados podem ser compensados de outro modo. Já uma chapa unindo São Paulo e Minas teria uma força considerável de largada. Anastasia, senador até 2022, não tem nada a perder.