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O drama do centro

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A pulverização de candidaturas na eleição presidencial deste ano afeta os dois polos da disputa mas, pelo menos neste momento, está sendo mais nefasta para a centro-direita, apelidada de “centro”. O PT levará a improvável candidatura Lula ao limite, buscando a transferência de votos que leve o substituto ao segundo turno mesmo sem alianças.  Ciro Gomes (PDT), Manoela Dávila  (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL) correrão por fora. O centro igualmente se divide entre candidaturas anêmicas mas, quanto mais demora para empinar uma delas, mais espaço vai abrindo para o ultra-direitista Jair Bolsonaro colher votos na seara, cacifando-se para o segundo turno.

Um dos fatos desta semana será a convenção do DEM, que não oficializará a candidatura de Rodrigo Maia, mas vai incensá-la e lançar uma plataforma liberal. “Não é hora de lançar candidato mas vamos dizer que temos um nome e temos programa”, diz o presidente do partido, senador Agripino Maia. Na sexta-feira, em Barra Mansa, Maia defendeu uma candidatura de centro alternativa à do tucano Geraldo Alckmin, que a seu ver não tem chances de vencer.  “Não precisa ser necessariamente a minha, mas meu nome tem o apoio de partidos importantes e pode ser uma construção que nos dê a chance de disputar o segundo turno. Do contrário, vamos entregar a eleição para o PT, para a Marina ou para o Ciro”. 

Neste centro engarrafado, onde trombam Alckmin, com menos de 10%, Henrique Meirelles  e o próprio Maia com menos de 2%, agora entrou também Michel Temer, apesar da impopularidade e de agora ser investigado em dois inquéritos. Mas ele acha que descobriu a pólvora eleitoral ao deslocar a agenda do governo, e talvez da campanha, para a questão da segurança, a partir da intervenção no Rio. 

Esta semana ele avançará em tratativas com os partidos sobre a troca dos ministros que, para disputar as eleições, terão que deixar os cargos até 7 de abril. Tem dito que só ficarão no governo os que se comprometerem a apoiar uma candidatura da base governista. Não diz, mas  pensa na própria. Há partidos refugando o compromisso, como o DEM e o PSD.   

A busca desta candidatura governista alternativa imobiliza Geraldo Alckmin na costura de alianças, na escolha do vice e na montagem dos palanques estaduais. A esquerda também está dividida mas não tem, como Alckmin, um Bolsonaro disputando seus eleitores. Quando Lula é retirado da lista de candidato,  ele sobe ao primeiro lugar, como no  Datafolha de janeiro: sem Lula na cartela, Bolsonaro foi a 18%, seguido de Marina (13%), Ciro (10%), Luciano Huck (que ainda não havia desistido) e Alckmin, ambos com 8%.

As múltiplas candidaturas, a debilidade de todas elas e agora a aposta de Temer na reeleição tornam mais dramática a situação das forças que conduziram o impeachment. Ninguém decola e, faltando um mês para o fim do prazo de filiação partidária,  não encontrarão mais o “outsider”, o “novo” que se buscou em Huck.   

GIRO PARTIDÁRIO 

A convenção do DEM, na quinta-feira, 8, vai incensar a candidatura Rodrigo Maia mas tem outra pauta. Com a chegada de mais de uma dezena de novos deputados ao partido, oito deles vindos do PSB, a direção nacional (e depois das estaduais e municipais) será renovada e o programa, atualizado,  diz o  presidente do partido, Agripino Maia. O prefeito de Salvador, ACM Neto, será eleito presidente. 

O PSB, de volta ao campo da esquerda, praticamente descartou o apoio a Geraldo Alckmin.   Minguaram  também as chances de candidatura própria com Aldo Rebelo ou com Joaquim Barbosa. Mais provável é a liberação das seções estaduais no primeiro turno, com foco na eleição de governadores e de uma boa bancada.