Um Lula senhor de seu jogo, objetivo e frio na análise da própria situação, é o que aparece na entrevista a Mônica Bérgamo, na Folha de São Paulo, avisando aos adversários que levará sua candidatura ao limite, comandando o que chamou de “minha guerra”: Só então, se e quando for inabilitado definitivamente, “vou aventar a possibilidade de outra candidatura”. Mas nesta altura, está implícito, já teria se consolidado como cabo eleitoral do nome alternativo que seria lançado pelo PT.
A não ser, é claro, que seja preso antes, hipótese que ele diz não temer. Define-se como “um homem muito tranquilo, que sabe o que está sendo traçado para ele”. O aviso de que levará a candidatura ao limite serve aos adversários que o desejam fora do páreo o quanto antes, de preferência preso, e também aos petistas assanhados pela definição do plano B. E vai ao encontro da militância petista, que precisa ser confortada e ter sua energia alimentada pela permanência de Lula na briga. “Se entendo um pouco de política, a disputa deverá ser outra vez entre tucanos e PT”. Este prognóstico colide frontalmente com a estratégia que vem sendo montada pelo Palácio do Planalto, de construir uma candidatura que una os partidos da base governista. Poderia ser a de Temer – se der certo seu plano de reduzir sua colossal impopularidade com a nova agenda da segurança - ou a de outro aliado, mas não seria a do tucano Geraldo Alckmin. É com Alckmin, porém, que flertam alguns partidos governistas, como o PSD e setores do DEM, corroborando outro dito de Lula. Pela esquerda ninguém será presidente sem apoio do PT, nem pela direita sem apoio do PSDB.
Duro foi o recado a Ciro Gomes, que segundo Lula só tem uma escolha: “ou vai para a direita ou não pode brigar com o PT”. Ciro insiste nos ataques, como quem não deseja a aliança mas ontem falou em encontro no segundo turno. Lula é defensivo quando trata das acusações que lhe são feitas, recusando-se, por exemplo, a falar das reformas no sítio de Atibaia. Falou muito das realizações de seu governo e esta parte não foi publicada, queixaram-se auxiliares que divulgaram o inteiro teor das duas horas de gravação, mas deu os recados que queria, e devem ter sido anotados.
O julgamento de seu pedido de Habeas Corpus preventivo pelo STJ, em 6 de março, é esperado com absoluto ceticismo. Ali há sintonia fina com o TRF-4. É o STF que pode evitar sua prisão, revendo a decisão sobre prisões após condenação em segunda instância. Isso, se a ministra Cármem Lúcia colocar logo o assunto em pauta.
MÃOS ABANANDO
Os estados estão endividados e muitos rolando a dívida com a União. Saíram frustrados do encontro com Temer e Jungmann, que lhes ofereceram uma linha de crédito de R$ 42 bilhões para reequipar as polícias. Querem ajuda como a do Rio, a fundo perdido.
TREMORES
Duas eventuais delações, no âmbito da Lava Jato, semeiam pânico no meio político. No PSDB, o temor de que Paulo Preto acabe firmando um acordo e faça revelações que podem respingar na candidatura de Geraldo Alckmin. No PMDB, o pavor com os novos movimentos de Eduardo Cunha, que voltou a organizar sua proposta de colaboração. Logo agora que o Planalto acha que começou o bom momento para Temer.