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Jogada de mestre

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Convencido de que está jogando um bolão, o presidente Michel Temer arremata hoje o que defi niu como sua “jogada de mestre”, a intervenção no Rio,  anunciando o nome do titular do Ministério Extraordinário da Segurança Pública. Com este nome pomposo para a 29ª pasta de seu governo – embora antes do impeachment tenha prometido reduzir as 35 de Dilma Rousseff  para 22 – Temer pode evitar a edição de uma MP ou o envio de um projeto de lei,  o que lhe custaria uma peleja com o Congresso, onde as rachaduras em sua base agora são mais fundas.  O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está em claro processo de afastamento do Governo.  Por decreto, Temer pode nomear ministros extraordinários, desde que não crise uma nova estrutura administrativa, como tudo que isso significa: cargos, orçamento, logística.  Pegaria mal em tempo de crise fiscal mas isso agora só tem importância simbólica.   

Com a intervenção, o Governo trocou a impopular  agenda de reformas e austeridade pela da segurança, que pode lhe render simpatias e aumentar a escassa aprovação. Mas esta é também a agenda do aumento de gastos e de torneira frouxa, do aumento do rombo fiscal, que explodirá no colo do sucessor a ser eleitot este ano.  Tanto é que foi imediato o rebaixamento da nota brasileira pela agencia de risco Fitch.      

E com a divulgação do nome deste novo ministro, que pode ser mais um general, entramos na segunda semana da grande pirueta do governo.  Ela tem seus desdobramentos práticos, que são as ações militares no Rio e algumas medidas para os outros estados, a partir da nova pasta,  mas representa também, e sobretudo, uma ousada e temerária tentativa de colocar o governo em posição ofensiva no jogo eleitoral que se aproxima de marcos importantes do calendário. Dentro de 40 dias esgota-se o prazo para candidatos trocarem de partido sem infringir as regras da fi delidade e para que ocupantes de cargos públicos se desincompatibilizem.

De presidente mais impopular da História, Temer virou eventual candidato, podendo tornar-se pelo menos um forte infl uenciador da disputa, dizem os seus.   Quando defi ne a intervenção como “jogada de mestre”,  ele se deixa trair pela linguagem, espelho do pensamento. Náo parece adequado chamar de “jogada’’ uma medida grave como a intervenção federal na área de segurança de um estado,  com emprego da Forcas Armadas atraves de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) que já estava em curso. ‘’Jogada de mestre’’ é expressão que bem serve às situações de disputa, que exigem sagacidade e ousadia.  Como a política.  

Então, tratemos da “jogada de mestre” como lance político, da ocupação miltiar das favelas e do fi chamento indiscriminado de seus habitantes, não ainda de seus incertos resultados.   Temer até negou, na sexta-feira, que seja candidato, e um bom jogador não abriria mesmo esta carta agora.   Mas a hipótese de sua candidatura já teve efeitos concretos sobre a coalizão de centro-direita vitoriosa com o impeachment.  Para começar, o ministro da Fazenda avançou o sinal hierárquico, declarando que disputaria até com o próprio Temer. Tentou se explicar e acabou sendo chamado para uma conversa com Temer no sábado. Rifado no PSD, onde o dono da sigla, Gilberto Kassab, quer ser vice na chapa tucana para o governo paulista, Meirelles gostaria de ser candidato pelo MDB. Ora, no MDB só tem profi ssionais, como diz Moreira Franco. Porque entregariam a sigla a um candidato com 1% nas pesquisas eleitorais? Nanico por nanico, o partido tem Temer, não para ganhar, mas para ajudar o MDB, como o uso pesado da máquina federal, nas disputas estaduais e na eleição de deputados.  Depois, como sempre, o vitorioso precisará do MDB.  A candidatura Temer, de quebra, lhe daria o discurso de que foi perseguido com denúncias porque seria candidato, quando for acertar suas contas com a Justiça, já fora do cargo.  

Assim,  um efeito colateral imediato da “jogada de mestre”  é o racha do chamado centro, que já não tinha candidato viável. De um lado,  dois candidatos “governistas”, Temer e Meirelles, contra dois outros prometendo correr por fora, distanciados: Rodrigo Maia , que será lançado dia 8, e Alckmin, que já não terá de disputar prévias internas no PSDB. Empate com a esquerda, que tem Lula na incerteza e outros três candidatos no grid.

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