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Estudo encomendado pelo Ministério da Saúde indica aumento de jovens com HIV

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Uma pesquisa realizada por instituições de ensino superior e de pesquisa brasileiras de 11 capitais de estado, além do Distrito Federal, concluiu um dado alarmante: entre 2009 (ano do primeiro levantamento) e 2016, o número de homens entrevistados identificados com o vírus HIV subiu 52%. O estudo, encomendado pelo Ministério da Saúde, ocorreu de junho a dezembro de 2016 e foi realizado com homens de 18 anos de idade ou mais que relataram relação sexual com parceiros do mesmo sexo. 

Do universo de 4.176 entrevistados, 3.958 aceitaram fazer o teste de HIV, com 18,4% de resultados positivos. Na pesquisa anterior, a prevalência foi de 12,1%. Metade dos participantes relatou terem sido testados pela primeira vez na vida. No grupo da pesquisa, 83,1% dos ouvidos se declararam homossexuais; 12,9%, heterossexuais ou bissexuais; e 4%, de outros grupos. Do total, 75% fazem sexo só com homens.

O estudo, publicado na revista americana “Medicine”, também chama atenção para o fato de que o maior aumento de infectados está entre os jovens de 15 a 19 anos: a taxa triplicou, subindo de 2,4 casos para 6,7 por 100 mil habitantes. Já na faixa entre 20 e 24 anos, o índice dobrou (de 15,9 para 33,1 casos por 100 mil). 

Alto índice

São Paulo chama atenção na pesquisa, pois um em cada quatro homens que tiveram relações homoafetivas estão infectados com o vírus HIV. “Esse número me assustou. É um alerta importante. Mas precisamos lembrar que o vírus não afeta somente este recorte da população, como foi colocado lá nos anos 80. Afeta o ser humano, independentemente de gênero e orientação sexual”, alertou o superintendente de Políticas Públicas LGBT do Estado do Rio de Janeiro (Rio Sem Homofobia), Ernane Alexandre.

O resultado da pesquisa complementa informações do Ministério da Saúde, que mostram que apenas 56,6% dos jovens entre 15 e 24 anos usam camisinha com parceiros eventuais. Outro ponto apresentado pelo ministério é que um em cada quatro indivíduos infectados é homem que afirma ter relações com outros homens. Como envolve metodologia diferente, não é possível fazer comparações, apesar de Jean Gorinchteyn, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, unidade da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, admitir que a pesquisa da revista “Medicine” não inclui grupos diversos de orientação sexual e gênero.

“Independentemente de ter relação homoafetiva ou não, o indivíduo tem o risco de se contaminar. Se decidirmos que essa linha de prevenção é restrita a este grupo, vamos dizer, de forma errada, que nem todas as pessoas são pacientes de risco”, completou Jean. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, a prevalência do HIV na população geral é de 0,4%. 

O superintendente do Rio Sem Homofobia lembra, também, que entre as hipóteses levantadas para o avanço do vírus no Brasil estão a falta de campanhas preventivas, a redução do uso da camisinha e a maior efetividade dos tratamentos que, por sua vez, reduzem o medo da doença. 

“Nós vivemos um período epidêmico nas décadas de 70 e 80, que essa população que nasceu depois dos anos 90 não viveu. Então, não tiveram amigos, parentes e familiares que perderam a vida por causa dessa doença. Hoje, com todos os medicamentos e tratamentos eficazes, que não são 100%, mas estão acima de 90% de resultados positivos, temos uma juventude despreocupada”, disse Ernane Alexandre.

Para ele, é cada vez mais necessária uma política de prevenção que não funcione apenas no dia de conscientização do HIV ou no carnaval, mas o ano todo. “Temos que voltar a trabalhar essa questão da prevenção, principalmente na população jovem. Os dados estão aí e estão crescendo”, acrescentou. 

Jean Gorinchteyn complementou: “É de extrema importância que tenha uma pesquisa que documente essa questão, para que todas as políticas de prevenção sejam tomadas, pré e pós exposição ao vírus”, disse o infectologista. 

Atualmente, o Ministério da Saúde, além de camisinhas e medicamento que previne a infecção pelo HIV, oferece a chamada profilaxia pós-exposição, um conjunto de remédios que devem ser ingeridos por 28 dias no período imediatamente após o possível contágio.