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Cérebro do homem de Neanderthal ganha forma

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Pela primeira vez, pesquisadores tentaram reconstruir o cérebro do homem de Neanderthal em 3D, uma abordagem original que, sem resolver o mistério de seu desaparecimento, poderá ajudar a entender melhor nosso primo.

"A tentativa de reconstruir em 3D o cérebro de crânios fósseis é completamente nova", explicou à AFP Naomichi Ogihara, da Universidade de Keio, no Japão, co-autor do estudo que mistura "antropologia física, engenharia mecânica e neurociência".

Para realizar essa reconstrução, os pesquisadores modelaram, a partir de ressonâncias magnéticas de cerca de 1.200 pessoas, o que poderia ser chamado de cérebro "médio" do Homo sapiens do século XXI.

Eles então "deformaram" digitalmente esse cérebro típico para tomar a forma de crânios fósseis do homem de Neanderthal e crânios do antigo Homo sapiens.

"Estamos tão longe de entender o cérebro do homem pré-histórico que todos os pequenos passos extras são úteis", diz Antoine Balzeau, paleoantropólogo do Musée de l'Homme.

Segundo o estudo publicado nesta quinta-feira na Scientific Reports, as reconstruções mostram que "o Homo sapiens apresentam morfologias cerebrais significativamente diferentes, incluindo um cerebelo maior".

Os neandertais apareceram na Europa, na Ásia Central e no Oriente Médio há 200 mil anos. Eles desapareceram há cerca de 30 mil anos, sem que ninguém saiba por quê.

"Há reais diferenças morfológicas entre os cérebros das duas espécies, o que pode ter resultado em diferenças nas habilidades cognitivas e sociais", diz Naomi Ogihara.

"Essa diferença pode ser sutil, mas até mesmo uma diferença sutil pode se tornar significativa em termos de seleção natural", acrescenta o pesquisador, referindo-se ao desaparecimento dos neandertais.

Este último ponto pode ser questionável, a correlação, em termos de cérebro, entre o tamanho, a forma e a função continua no campo especulativo. Mas "é importante documentar melhor o cérebro e, nesse sentido, esses trabalhos são importantes", aponta Antoine Balzeau.

"Ao acumular conhecimentos, progressos em genética, em morfologia funcional, imagens do cérebro ... podemos ser capazes de entender as diferenças anatômicas entre Homo sapiens e neandertais, ou mesmo um dia entender as diferenças comportamentais", acrescenta o especialista.