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'The Wall Street Journal': Cientista reproduz cheiro do dólar e coloca em frascos

O alemão Vom Ende levou seis meses para chegar ao aroma ideal

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Matéria publicada nesta quinta-feira (19) pelo The Wall Street Journal conta que agentes da alfândega e químicos em todo o mundo há muito tentam detectar o aroma exato do dólar, moeda mais usada no comércio internacional. A caça é complicada pelo fato de que o cheiro de uma nota de dólar evolui à medida que circula — de uma fragrância de algodão e tinta fresca em notas novinhas para um cheiro mais grosseiro de terra e pele oleosa que deveria fazer as pessoas lembrar de lavar as mãos com mais frequência. Marc vom Ende, um químico e perfumista da Symrise AG, empresa alemã que desenvolve sabores e fragrâncias, acredita que achou a mistura precisa.

Segundo a reportagem, começando com notas básicas de algodão, sabão e tinta, diz Vom Ende, o aroma evolui para odores derivados de mais de 100 produtos químicos orgânicos voláteis. Entre eles estão o couro desgastado de carteiras e bolsas, um toque metálico que lembra caixas registradoras, o suor salgado de humanos e até mesmo o odor de bactérias e banheiro. 

> > The Wall Street Journal What Gives Money Its Distinctive Smell? One Chemist Tried to Find Out

Mike Bouchet, um artista de Frankfurt que encomendou a busca pelo perfume do dólar, diz que a primeira vez que colocou o nariz numa amostra, “foi como um choque elétrico, porque cheirava como dinheiro. Foi revigorante”, afirma o diário norte-americano.

Empresas da indústria de aromas e fragrâncias, que movimenta US$ 25 bilhões anualmente, mantêm bancos de dados com mais de 10 mil tipos de material que exalam fortes aromas, como alimentos e flores, dos quais podem extrair óleos essenciais, e compostos aromáticos e moleculares patenteados por perfumistas. Até agora, o cheiro de dólares não havia entrado em nenhum inventário. Quando Bouchet procurou a Symrise, que tem sede em Holzminden, há dois anos, com a ideia de recriar o cheiro de dinheiro em circulação, os executivos passaram o projeto a Vom Ende, seu principal perfumista. Aos 48 anos, ele é o criador de aromas para difusores no interior de carros da Mercedes-Benz, além de trabalhar para fabricantes europeus de perfume.

Vom Ende sentia o cheiro de desafio. “O dinheiro leva algo de todos por quem ele passa”, diz ele. “Isso o torna extremamente complexo, mas isso também torna a detecção interessante.”

O noticiário descreve que para começar, o perfumista inseriu um maço de notas novas e usadas de U $ 1, US$ 5 e US$ 20 em uma câmara hermética contendo carvão ativado. Como uma esponja, o carvão absorveu elementos de dentro ou ao redor dos dólares no ar aprisionado, permitindo que as moléculas do dinheiro fossem extraídas. (Cédulas diferentes têm cheiros diferentes.) Depois de passar os elementos extraídos a testes químicos adicionais, Vom Ende detectou mais de 100 ingredientes. O maior grupo estava composto de aldeídos alifáticos, um cheiro dominante em sabão, linho e “um aroma- chave no Chanel n º 5”, diz ele. As pessoas normalmente acham esses compostos atraentes, acrescentou, “a menos que fiquem muito fortes; aí achamos que cheira a vômito”.

Vom Ende levou seis meses para chegar a um aroma que, em sua opinião, recriava o cheiro de dinheiro recém-impresso, contando com vários colegas “avaliadores” para testar e aprovar seus esforços. Demorou mais outros oito meses para ele sentir que tinha chegado ao cheiro de dinheiro em circulação.

“Dinheiro novo é fácil, mas e reproduzir o cheiro de dinheiro usado? É aí que entra a criatividade”, diz Pamela Dalton, psicóloga cognitiva que estuda aromas no Centro de Sentidos Químicos Monell, na Filadélfia.

A fórmula final pode ser tentadora para falsificadores de dinheiro que procuram fazer que suas notas falsas tenham “cheiro autêntico”, acrescenta. O Serviço Secreto americano, que supervisiona os esforços para combater crimes financeiros, como a lavagem de dinheiro, ficou intrigado com a ideia de recriar o cheiro do dólar, mas afirma que o olfato não é uma das ferramentas que os especialistas usam atualmente para detectar cédulas falsas.

A Casa da Moeda americana, que imprimiu 7,6 bilhões de novas cédulas no ano passado para o Federal Reserve, o banco central dos EUA, informou que o odor das notas não é uma marca registrada, embora alguns dos processos de fabricação utilizados para produzi-las sejam patenteados, finalizou The Wall Street Journal.