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ANM promove Simpósio de atualização sobre Câncer de Mama no Outubro Rosa

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A Academia Nacional de Medicina, instituição científico-cultural mais antiga do Brasil, deu, na quinta-feira (20), mais uma prova de sua constante atualização, com a realização de Simpósio sobre Câncer de Mama, que apresentou os desafios e inovações no combate à doença. Organizado pelos Acadêmicos Daniel Tabak e Hiram Lucas, o Simpósio, realizado em vídeo-conferência coordenada pelo Acadêmico Fabio Jatene, no INCOR, USP, reuniu especialistas de diversas áreas em tarde de discussões na sede da instituição. 

Na primeira aula do dia, o Prof. Amelio Godoy-Matos (IEDE) falousobre “Qual o Impacto do Sobrepeso”, ressaltando que a obesidade e o sobrepeso são epidemias no Brasil, e que os estudos sobre a associação destes ao câncer já apontam para a existência de uma relação causal, não apenas de risco. Destacou ainda que o tecido adiposo é o maior órgão endócrino do corpo humano, produzindo cerca de 50 tipos de hormônios. Mostrou estudos que evidenciam que a obesidade influencia na incidência, resposta terapêutica e sobrevida no câncer de mama.

O Acadêmico Daniel Tabak dedicou-se a responder à questão “O Exercício Modifica a História Natural da Doença? ”, ressaltando a importância do controle de peso, atividade física e uma dieta saudável como componentes essenciais de prevenção do câncer. Apresentou importante estudo que aponta que o aumento do risco de mortalidade associado à inatividade física é semelhante ao associado ao tabagismo e obesidade. Com relação a pacientes que já possuem câncer, o Acadêmico apresentou estudos comprovando que atividade física melhora a qualidade de vida e reduz a mortalidade em pacientes portadoras de câncer de mama. Todavia, ressaltou que a prática de atividade física deve incluir exercícios aeróbicos e de resistência, coordenados por um instrutor qualificado.

Sobre “Cirurgia: Estado da Arte”, o Prof. Maurício Magalhães Costa (UFRJ) salientou que a intervenção cirúrgica costumava ser a única opção terapêutica no tratamento do câncer de mama, o que resultava em procedimentos invasivo se que não foram suficientes para resolver todos os casos e diminuir as taxas de mortalidade. O conceito de tratamento conservador passou a ser empregado com o objetivo de melhorar a sobrevida das pacientes e fornecer mais qualidade de vida a quem que se submete ao procedimento cirúrgico.Segundo o Professor Maurício, é pouco provável que a cirurgia do câncer de mama seja superada pelos tratamentos não invasivos. O futuro dos procedimentos cirúrgicos seria o desenvolvimento de técnicas cada vez mais adaptadas às pacientes, individualmente, e que requerem a participação de um cirurgião plástico e de equipe multidisciplinar.

A Dra. Célia Viegas (INCA) apresentou conferência denominada “Radioterapia: o que há de novo? ”, ressaltando que 70% dos pacientes oncológicos precisam de radioterapia no tratamento - as doses de radiação e o tempo de aplicação são calculados conforme o tipo e o tamanho do tumor. Segundo a Dra. Célia Viegas, a busca de melhores resultados terapêuticos está associada principalmente à redução da toxicidade e à multidisciplinaridade da equipe envolvida. Sobre o projeto de aumentar a rede de atendimentos de radioterapia no Brasil, a Dra. Célia Viegas destacou que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Radioterapia, acada ano, cerca de 90 mil pacientes ficam sem atendimento por não conseguirem vagas nos serviços da rede pública, responsável por 90% da demanda.

O Dr. Luiz Gustavo Torres (CENTRON), apresentou palestra sobre “Manipulação Hormonal”, apresentando os tipos de terapia endócrina disponíveis, com fármacos como o tamoxifeno e anastrozol e destacando quea hormonoterapia raramente tem objetivo curativo quando usada isoladamente. É usual sua associação com a quimioterapia, com a cirurgia e com a radioterapia.Até muito recentemente, a hormonoterapia era baseada em critérios empíricos, resultando em esquemas terapêuticos de administração variável em dosagens e intervalos.Após a apresentação de diversos estudos sobre as diferentes associações do tratamento hormonoterápico, o Dr. Luiz Gustavo Torres afirmou que a principal questão a ser considerada é a individualização do tratamento, devendo-se entender as especificidades fisiológicas, genéticas e pessoais de cada paciente, pois existem diferentes prognósticos para as escolhas terapêuticas feitas por cada médico.

Respondendo à questão de “Como Personalizar o Tratamento Quimioterápico”, o Dr. José Bines (INCA) iniciou sua apresentação salientando que apesar de uma diminuição da mortalidade associada ao câncer de mama, no Brasil é observada uma situação diferente. Ressaltou que o câncer de mama não é uma doença “única”, mas um conjunto de doenças de características distintas, o que aumenta a importância da caracterização molecular de cada caso.Para individualizar o tratamento, o Dr. José Bines afirmou ser necessária uma melhor avaliação para a indicação da quimioterapia, uma vez que as diferentes reações ao tratamento estão associadas ao tipo de agente utilizado. Sendo assim, é necessário identificar quem são os pacientes que irão, de fato, se beneficiar com o tratamento quimioterápico, levando em consideração principalmente os efeitos colaterais associados.

O Dr. Eduardo Cazap, Presidente da SLACOM (Sociedad Latinoamericana y del Caribe de Oncología Médica) fez conferência abordando “Câncer de Mama: Um Problema Global de Saúde Pública”, afirmando que, nas próximas décadas,o câncer de mama se tornará um problema de saúde pública global, aumentando desproporcionalmente nos países de baixa e média renda. Chamou atenção para o fato de que o câncer é um problema de desenvolvimento humano, também associado ao aumento progressivo da expectativa de vida.

Na conclusão de sua palestra, o Dr. Eduardo Cazap salientou que existe urgência no desenvolvimento de políticas públicas adequadas às características da doença em cada país. Ademais, a existência de desigualdades no acesso ao tratamento de saúde, condições socioeconômicas e nos próprios Sistemas de Saúde torna necessário o entendimento de que não há uma estratégia única de prevenção,alertando para o perigo de “importar” protocolos de atendimento.