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Perspectivas para vacina contra o Zika vírus são discutidas na ANM

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Um dos momentos marcantes do Simpósio sobre Zika e Chikungunya realizado na Academia Nacional de Medicina foi a participação do Dr. Jorge Kalil, presidente do Instituto Butantan, para fazer apresentação sobre as perspectivas de vacinas para Zika vírus. 

Apesar da forte mobilização decorrente da epidemia de Zika, atualmente não existem soluções definitivas para este problema, uma vez que ainda existem muitas lacunas não preenchidas com relação à doença. Ainda assim, preconizou uma ação imediata visando conter o avanço da doença. Apresentou estudo publicado na revista Science, que apresenta modelos matemáticos indicando que a Zika, em sua forma epidêmica, deverá persistir por aproximadamente mais 4 anos – após esse período, deve desaparecer por volta de 10 anos em decorrência da imunização natural, até a próxima geração vulnerável. Tendo em vista este quadro, o Dr. Jorge Kalil afirmou que é necessário agir rápido e fazer as associações necessárias para impedir o aumento do custo social da epidemia.

Com relação ao trabalho desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com a Escola de Medicina da USP, o Dr. Jorge Kalil destacou que este é feito em diferentes áreas. Na área biológica, o trabalho envolve o estudo das respostas imunológicas às vacinas, a história natural da infecção viral, a interação vírus-hospedeiro, entre outros. Na área terapêutica, são desenvolvidos estudos utilizando anticorpos mono e policlonais e estudos da sorologia diagnóstica. Por fim, foram apresentados os estudos em produção de vacinas nas suas variadas formas. 

Sobre a doença, foi salientado que ainda existem muitas perguntas sem resposta que dificultam uma abordagem eficiente desta epidemia. Além deste fato, é necessário que se tenha conhecimento de quais são as considerações clínicas para o desenvolvimento de uma vacina contra a Zika para o grupo considerado mais vulnerável a esta epidemia: as gestantes -não se sabe, por exemplo, qual a frequência com a qual uma gestante infectada transmite o vírus. Em razão de existirem questões envolvendo a segurança das gestantes, o Dr. Jorge Kalil chamou atenção para o fato de que os estudos não devem estar centrados apenas em vacinas, mas também em anticorpos. Nesse sentido, e levando em consideração que a prioridade imediata é a proteção do feto ao longo da gravidez, o médico imunologista sugeriu que a profilaxia com anticorpos neutralizantes em estágios iniciais da gravidez pode ser a melhor opção, uma vez que a transferência é feita diretamente pela mãe, gerando menos danos ao feto.

Sobre as vacinas, o Dr. Jorge Kalil ressaltou que o desenvolvimento convencional de uma vacina consiste em 4 etapas clínicas muito longas, podendo chegar a anos em cada uma. Dentre as iniciativas desenvolvidas pelo Instituto, uma das mais importantes é de uma vacina de DNA, que usa um pequeno fragmento de DNA produzido sinteticamente em laboratório, que desperta a resposta imunológica contra o vírus no organismo.Uma das vantagens da utilização da vacina de DNA é seu caráter praticamente inócuo - sua utilização gera poucos desdobramentos negativos – e o fato de que esta poderia entrar em circulação no curto prazo.O Instituto Butantan pretende iniciar em dois meses os testes em humanos de uma vacina contra o vírus da Zika, dependendo da autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), que deve sair em breve. Como iniciativa a médio prazo, o Dr. Jorge Kalil apresentou a vacina para Dengue, que se encontra em sua segunda fase clínica. Com a adição do componente viral do Zika, espera-se o desenvolvimento de uma vacina pentavalente (para os quatro tipos de vírus da Dengue e o Zika vírus).

O Dr. Jorge Kalil informou Instituto Butantan fechouparceria com os Estados Unidos e com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus da Zika.O centro de pesquisa brasileiro deve receber US$ 3 milhões da Autoridade de Desenvolvimento e Pesquisa Biomédica Avançada (BARDA, na sigla em inglês), para o desenvolvimento de uma vacina de Zika com vírus inativado. A expectativa é que a vacina esteja pronta para testes em humanos já no final do verão de 2017.

Na conclusão de sua apresentação, o Presidente do Instituto Butantan afirmou queseria possível desenvolver estas vacinasde forma mais rápida se houvesse mais recursos disponíveis. Chamou a atenção para o fato de que o investimento externo(há investimentos vindos da Europa, Estados Unidos e Coreia do Sul) vem ocorrendo em volume muito maior do que o investimento interno, o que constitui um fator de grande preocupação, uma vez que o Brasil é o país onde o vírus está mais disseminado. As estimativas do Ministério da Saúde indicam que o país teve 138.108 casos prováveis de Zika em 2016 até o dia 7 de maio.