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Academia Nacional de Medicina realiza simpósio sobre a História da Medicina

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A Academia Nacional de Medicina promoveu um simpósio sobre a História da Medicina, organizado pelos acadêmicos Orlando Marques Vieira e Carlos Antonio Gottschall. O Dr. Carlos Gottschall salientou que o método histórico é tão importante quanto o método científico no estabelecimento do conhecimento.

O acadêmico discorreu sobre o que ele considera a maior descoberta médica do milênio. Em 1628, o médico William Harvey constatou que o sangue circula continuamente pelo organismo, impulsionado pela contração do ventrículo esquerdo através da aorta e pela contração do ventrículo direito através da artéria pulmonar, retornando respectivamente pelas veias pulmonares e pelas veias cavas, e enchendo novamente os ventrículos por efeito da contração dos átrios correspondentes.

Hoje certamente este constitui um conhecimento básico de qualquer curso de Medicina, contudo, naquele momento em que a Ciência ainda não admitia grandes complexidades teóricas, a descoberta deste fato foi extremamente notável e deve ser referenciada para a realização de qualquer pesquisa médica.

Na época em que o Dr. Harvey fez esta constatação, o imperativo teórico era a Filosofia natural, Aristotélica. Ou seja, acreditava-se ainda que a matéria era contínua; tudo era composto por apenas quatro elementos; a Terra era considerada esférica e imóvel; localizada no centro do Universo; considerava-se transmutação da matéria e geração espontânea de seres; dentre outras premissas que nos colocam muito distantes conceitualmente.

Dando continuidade ao argumento de que a História da Medicina deve ser referenciada - e reverenciada - para se conquistar novas técnicas e conceitos, o Dr. Orlando Marques Vieira iniciou sua apresentação discorrendo sobre a importância da contribuição médica de brasileiros a nível internacional para a evolução de cirurgias de aneurismas da aorta.

Para introduzir o tema, destacou os feitos do Dr. Cândido Borges de Monteiro, o Visconde de Itaúna, considerado por ele um dos mais notáveis homens do seu tempo. O Dr. Borges de Monteiro foi o primeiro cirurgião a realizar no Brasil a ligadura da artéria aorta abdominal, e, inclusive, apresentou uma Memória sobre o tema ao ser eleito o 35º Membro Titular da Academia Nacional de Medicina em 1845.

Além de suas contribuições para a evolução dos estudos de cirurgia, o Visconde de Itaúna também possui uma notável vida parlamentar e política, pois ocupou diversos cargos tais como vereador, deputado, senador, ministro e governador.

O Dr. Marques Vieira destacou que algumas publicações do Dr. Borges de Monteiro são, até hoje, referência por suas publicações sobre a amputação circular pela continuidade da coxa, pois as descobertas teóricas e práticas conquistadas por ele foram feitas em uma época com pouquíssimos recursos, de maneira que o Visconde de Itaúna realizava cirurgias em sua própria residência, no Centro do Rio de Janeiro.

Em seguida, para enriquecer esta análise histórica, o acadêmico Henrique Murad apresentou algumas informações sobre as doenças da aorta: aneurismas, dissecções aórticas, hematomas intramurais, úlceras penetrantes, destacando que a mais grave delas, é a ocorrência da ruptura aórtica. Dentre algumas pessoas famosas que morreram em função de uma ruptura da aorta, segundo o acadêmico Murad, estão o rei Jorge II da Grã Bretanha, o cientista Albert Einstein, entre outros.

A história já registra muitos avanços em tratamentos de aneurisma. Após muitos estudos, passou-se a buscar realizar a trombose do saco aneurismático por meio de aramização, injeção de esclerosantes, endoaneurismorrafia, eletrocoagulação ou o uso de molas, porém estas técnicas se mostraram problemáticas.

Adiante, tentou-se também envolver o aneurisma com celofane, polietileno ou até pele, mas os resultados ainda não foram bons o suficiente. Albert Einstein foi um dos pacientes que teve seu aneurisma envolvido por um celofane, isso consistiu em uma medida temporária até que ocorresse a ruptura total da aorta e ele falecesse.

O Acadêmico Murad também destacou a contribuição do Acadêmico Vicente Cândido Figueira de Saboya, que foi Médico da Câmara Imperial e o primeiro a levantar a ideia da utilização de molas para tratar o aneurisma, em 1885. O Visconde de Saboya foi responsável por tornar o ensino de Medicina no Brasil próximo aos moldes franceses, o que era importantíssimo em uma época em que a França era o país com mais pesquisas médicas em andamento. Ele foi, inclusive, Presidente da Academia Nacional de Medicina em 1891 e 1892.

O Acad. Murad destacou também que os principais cirurgiões que transformaram a história dos tratamentos de aneurismas foram, cronologicamente, o Dr. Alexis Carrel, o Dr. Rudolph Matas, o Dr. DentonCooley, o Dr. Stanley Crawford, o Dr. Charles Dubost e o Dr. Michael DeBakey.

No Brasil, o Acad. Murad destaca a atuação dos médicos Luiz Edgard Puech Leão, Mario Degni e Alipio Correia Neto, além dos Acadêmicos Antonio Luiz de Medina, que também foi Presidente da ANM, bem como Helênio Chaves Coutinho eArno von Buettner Ristow.