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Zika pode ser herança da Copa do Mundo de 2014

Casos de pessoas infectadas começaram a ser registrados a partir de 2014

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Talvez a maior herança que a realização da Copa do Mundo em 2014 tenha nos deixado seja a introdução do zika vírus em território nacional. Passou quase despercebido, mas em maio do ano passado o então ministro da Saúde, Arthur Chioro, afirmava que a chegada da nova doença já era aguardada, trazida na bagagem dos milhares de turistas que aqui aportaram para assistir os jogos. 

Não é portanto coincidência que o registro de casos de pessoas infectadas tenha ocorrido exatamente a partir de 2014, acentuando-se no ano passado. Na época, Chioro chegou a afirmar que a descoberta do vírus não era motivo de preocupação, por se tratar de uma doença “mais branda” que a dengue…

Em novembro, menos de seis meses depois, Chioro já afastado da Pasta, o Governo decretou emergência em saúde pública. Dia a dia crescem os números de bebês nascidos com microcefalia provocada pelo zika vírus. 

A última contagem de casos suspeitos ultrapassava os 3,5 mil, com ocorrência em 20 das 27 unidades da Federação. Além disso, há grandes possibilidades de uma outra doença, a Síndrome de Guillen-Barré, que afeta o sistema nervoso e pode acarretar paralisia muscular, também ser causada pelo zika vírus.

O zika vírus é transmitido pelo Aedes aegypti, responsável pela difusão da dengue. O mosquito encontrava-se entre nós desde que aqui aportaram os primeiros navios negreiros, mas no começo do século XX chegou a ser totalmente erradicado. Em 1967, foi de novo constatado no Brasil, em Belém do Pará, e em 1981 ocorreu o primeiro surto de dengue comprovado laboratorialmente, em Boa Vista (RR). O ano passado registrou a maior epidemia da história: mais de 1,6 milhão de casos, com 863 mortes. Além disso, o mosquito também dissemina a febre chikungunya, registrada inicialmente em 2010.

É fato que o nosso sistema de saúde está falido. Hospitais lotados, falta de medicamentos, profissionais mal pagos, tudo contribui para que a população, principalmente a mais pobre, sofra as consequências de décadas de má administração das verbas públicas, assentada no profundo desprezo que os políticos todos, sem exceção, devotam à coletividade. Assim como a educação, saúde no Brasil nunca foi direito, mas sim privilégio. Desconhecemos o conceito de prevenção, que é olhar à frente, a longo prazo. Aqui, tudo é provisório, precário, inconsequente.