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Brasil busca desvendar a natureza da energia escura

Pesquisadores do Observatório Nacional participam do trabalho que tem coparticipação da Espanha

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Após um intenso período de tarefas de ajuste e otimização, tiveram início as observações sistemáticas para o Levantamento Celeste Fotométrico de Javalambre do Universo Local (J-PLUS), utilizando a câmera T80Cam, instalada no telescópio T80 do Observatório Astronômico de Javalambre, Espanha. Desde novembro vem sendo feitas observações para este levantamento que, em três anos, deve produzir um mapa tridimensional com centenas de milhões de galáxias, compreendendo um quinto de todo o céu do planeta, além de tentar desvendar a natureza da energia escura.

“Os dados J-PLUS fornecerão um mapa 3D de alta precisão do universo local em que informações sem precedentes multicores com 12 filtros de distâncias de mais de 20 milhões de galáxias e semelhante número de estrelas do Halo da Via Láctea serão medidos. A pesquisa vai permitir uma ampla variedade de estudos em muitos campos astrofísicos relacionadas com a cosmologia, estrutura de grande escala, aglomerados de galáxias, populações estelares em 2D, formação de estrelas em galáxias, a estrutura Halo, e estudos de  fontes variáveis na Via Láctea. Além disso, se espera também a descoberta de galáxias, quasares, supernovas, e pequenos corpos do Sistema Solar”, revela Renato Dupke, pesquisador do Observatório Nacional e coordenador do projeto no Brasil.

Nos últimos dias, cerca de 28 graus quadrados do J-PLUS já foram observados nos 12 filtros. No início do estudo, e a fim de garantir a calibração fotométrica do conjunto de dados inicial, uma fração significativa do tempo de observação está a ser dedicado a calibrações internas e ensaios para avaliar a robustez e a confiabilidade do sistema.

O levantamento está sendo feito no Pico de Buitre, Sierra de Javalambre, Teruel, a 1.957 metros de altura, uma das regiões mais escuras da Europa, com uma das melhores visibilidades astronômicas do planeta. 

Levantamento Celeste de Javalambre da Física do Universo Acelerante

Já a partir de 2016, o Brasil, em parceria com a Espanha, iniciará o projeto Javalambre Physics of the Accelerating Universe Astrophysical Survey (J-PAS) – Levantamento Celeste de Javalambre da Física do Universo Acelerante –, também conhecido como Projeto PAU-BRASIL, que durará entre cinco e seis anos. "Resultados mais precisos existentes sobre a energia escura já serão obtidos durante o terceiro ano de coleta de dados", explica Renato Dupke. 

O ON é responsável pelo aprovisionamento da JPCam, a câmera principal do projeto,  uma das maiores do mundo, somente comparável à do projeto americano Pan-Starrs, e participa intensamente em todos os níveis do projeto. Cinco pesquisadores do ON coordenam grupos de trabalho científico (Science Working Groups) na colaboração, nas áreas de Teoria Fundamental (Jailson Alcaniz), Cosmologia Observacional (Renato Dupke), Evolução de Galáxias (Roderik Overzier), Populações Estelares (Simone Daflon), e Pequenos Corpos no Sistema Solar (Jorge Carvano). 

O J-PAS é um levantamento de mais de 9.000 graus quadrados no céu. Mais de 90 milhões de galáxias com alta precisão (0.3%) de distâncias e mais de 400 milhões de galáxias com média precisão (3%) serão observadas, obtendo o maior mapa tridimensional do Universo e alcançando distâncias de 9 bilhões de anos-luz da Terra. Isso levará, entre outras coisas, à medição mais precisa das características da energia escura, um dos maiores mistérios atuais em Cosmologia e Física Fundamental, responsável pela expansão acelerada do universo, e cuja descoberta gerou o Prêmio Nobel para três astrônomos em 2011. Esse levantamento celeste é único, tecnicamente, com o uso inédito de 54 filtros de baixa largura. 

"Esse sistema de multifiltros é único entre os grandes projetos óticos atuais, sendo este o diferencial que nos permite competir na fronteira cosmológica com outros países mais ricos, mas com um gasto muito menor. Esse grande número de filtros é o elemento principal que mantém o J-PAS, potencialmente, como o melhor levantamento celeste dessa década”, afirma Dupke. A câmera principal, chamada de JPCam, é a contribuição material do lado brasileiro, com custo aproximado de 8 milhões de dólares, a maior parte do qual sendo financiada através do Observatório Nacional (com recursos da Finep, MCTI, Faperj e recursos próprios). 

O J-PAS já está quase pronto para ter início. O telescópio principal (T250) já está construído e inaugurou o Javalambre Astrophysical Observatory. O telescópio – com abertura efetiva de 2.5m, campo de visão de 3 graus de diâmetro e qualidade de imagem homogênea ao longo do campo de visão – será 100% dedicado ao projeto. "Para cobrir a área planejada dentro do tempo previsto, estamos construindo uma câmera com um campo de visão de aproximadamente 5 graus quadrados com um sistema de 14 CCDs de 9.2k x 9.2k pixels, 10?m/píxel (os maiores CCDs no mundo). Essa câmera usará 54 filtros de 145 Angstroms de largura cada um, cobrindo basicamente todas as frequências óticas e mais cinco filtros de banda larga", explica Renato Dupke.