De acordo com pesquisa realizada pelo Google e divulgada este ano, 73% dos brasileiros que possuem smartphones não saem de casa sem eles. É fato: a tecnologia está definitivamente presente na vida cotidiana. Seja para consultar informações, conversar com amigos e familiares ou apenas entreter, a internet e os celulares não saem das mãos e mentes das pessoas.
Por esse motivo, especialistas alertam: o uso excessivo dessas ferramentas pode viciar. Apesar de o distúrbio ainda não constar no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV, estudos recentes apontam que as mudanças causadas no cérebro pelo abuso na utilização da web e Whatsapp são similares aos efeitos de drogas químicas, como o álcool e até a cocaína.
A dependência pela tecnologia é comportamental, as outras são químicas, mas ela causa o mesmo desgaste na ponta do neurônio que as drogas podendo dar a sensação de necessidade e abstinência da dependência química — explica a psicóloga Paula Penteado. Segundo ela, o problema é o usuário conseguir diferenciar a dependência do uso considerado “normal”, já que hoje, a internet e os celulares são ferramentas profissionais e de estudo, alertando ainda para o agravante dos jogos de vida virtual onde se constrói uma vida real/virtual que coloca em questão o que é normal e o que é saudável.
A comerciante Cristina Gonçalves, por exemplo, diz se sentir ansiosa e incomodada quando fica longe do celular, pois usa o aparelho para se comunicar com clientes. Apesar de estar ciente do uso excessivo, ela considera o telefone fundamental para o trabalho.
Ainda de acordo com Paula Penteado, a linha que separa o uso do abuso é tênue. Mesmo que se use muito o celular, isso não caracteriza o vício. Na dependência patológica, o uso excessivo está ligado a um transtorno de ansiedade, como pânico ou fobia social — afirma a especialista, esclarecendo que o nome que se dá para descrever o medo de ficar sem celular é nomofobia. “Os principais sintomas da síndrome são angústia e sensação de desconforto quando se está sem o telefone e mudanças comportamentais, como isolamento e falta de interesse em outras atividades. Isso pode indicar que a pessoa está com algum problema que precisa ser investigado” diz a psicóloga.
Atenção especial aos adolescentes
Paula Penteado chama atenção para os adolescentes, que além de fazerem uso exagerado do celular também estão sofrendo um comportamento denominado , ou seja, passam a conversar com os amigos ao lado pelo aplicativo, como se não estivessem presentes.
“Chega a ser comum até em crianças muito pequenas, isoladas, com o celular do pai na mão em vez de estar brincando com os colegas e, com o agravante de, muitas vezes, ser cômodo para os pais, babás e cuidadores. Com os adolescentes chega a ser preocupante; tal comportamento interfere no desenvolvimento emocional do indivíduo, o que pode acarretar transtornos na fase adulta” diz à psicóloga que recomenda que os pais não deem smartphones e tablets para crianças muito novas e, principalmente monitorem como os filhos estão usando a internet e a quantidade de tempo que estão gastando na rede.
Apesar de haver por parte do governo e organizações não governamentais projetos para promover a inclusão digital e grupos de suporte emocional para tratamento de dependência digital em alguns hospitais escolas, o ideal é que junto com os mesmos seja dado um suporte para que a profissionalização não vire vício. “ Com a popularização dos smartphones, o problema tende a crescer. Quanto mais interativo é o aparelho, maior o potencial de dependência — afirma a psicóloga.
Abaixo, Paula Penteado lista os sintomas iniciais que podem levar ao vício:
- Preocupação constante com o que acontece na internet quando está offline.
- Necessidade contínua de utilizar a web como forma de obter excitação.
- Irritabilidade quando tenta reduzir o tempo de uso.
- Utilização da internet como forma de fugir de problemas ou aliviar sentimentos de impotência, culpa ansiedade ou depressão.
- Mentir para familiares para encobrir a extensão do envolvimento com as atividades on-line.
- Diminuição ou piora do contato social com amigos e familiares.
- Falta de interesse em atividades fora da rede.
- Comprometimento das atividades profissionais e acadêmicas, como perda do emprego ou não ser aprovado na escola.
- Lesões nas articulações dos dedos causadas pela intensa digitação.
- Automação no comportamento de buscar toda e qualquer resposta nos aparelhos.
- Insegurança quando está sem os aparelhos ou sem bateria.
Para não sofrer desse mal, os especialistas recomendam moderação, mesmo que o smartphone ou a internet sejam essenciais para determinadas atividades. E ao sentir qualquer dificuldade em ficar sem a tecnologia, mesmo quando não é realmente necessária, buscar ajuda especializada antes que um problema se torne uma patologia.