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Campanha de AVC: estudo demonstra eficácia de tratamento com cateterismo

Semana do AVC vai até próximo domingo; pacientes contam agora com declaração de direitos

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Começaram nesta segunda (27) e vão até o próximo domingo (2) as atividades marcadas para conscientizar sobre o acidente vascular cerebral (AVC) no Brasil. As atividades fazem parte da Campanha Mundial do AVC. Para identificar estratégias para combater o AVC, especialistas em derrame cerebral, neurologistas e outros profissionais da saúde se reuniram no último dia 22 de outubro em ocasião da abertura do 9º Congresso Mundial de AVC, que neste ano aconteceu em Istambul, na Turquia. A neurologista Sheila Ouriques Martins, presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares (SBDCV), esteve no congresso e, de acordo com a médica, a principal novidade apresentada foi o resultado positivo do primeiro estudo clínico randomizado comparando o tratamento habitual para AVC isquêmico com o tratamento usando cateterismo.

Segundo a neurologista, o cateterismo já era um procedimento utilizado em pacientes que sofriam AVCs graves, porém faltava a comprovação científica da eficácia do procedimento. “Esse estudo teve um resultado positivo, apontando que pacientes que sofrem AVCs graves devem ser tratados dessa forma, com a trombectomia. Nesse tratamento, o cateter vai até a circulação e puxa o coágulo. É um tratamento que já é feito em hospitais privados no Brasil, mas a dificuldade estava na garantia de que era a melhor opção. Esse estudo finalmente mostrou que é”, explica.

De acordo com os dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortes entre homens e mulheres no Brasil. O AVC é a doença que mata mais as mulheres, com índices superiores aos da AIDS e dos cânceres: são mais de 49 mil mortes por AVC em mulheres. Já entre os homens, o AVC fica em segundo lugar em índices de mortalidade com 50,5 mil mortes, perdendo apenas para os infartos com 60 mil óbitos.

O AVC pode causar sequelas motoras, levando o paciente a ficar restrito ao leito ou cadeira de rodas. As sequelas podem ser também cognitivas, podendo evoluir para a perda de memória e demência vascular, além de poder causar também dificuldades de fala ou alimentação. O AVC pode acontecer de duas formas distintas: de forma isquêmica, que é quando um coágulo bloqueia o fluxo sanguíneo para alguma área do cérebro; ou de forma hemorrágica, que é quando ocorre o rompimento de um vaso sanguíneo e há então sangramento dentro ou a redor cérebro.

Outro ponto fundamental que ocorreu no congresso foi o lançamento da Declaração Global dos Direitos dos Sobreviventes de AVC pela Organização Mundial do AVC (WSO), como parte da Campanha Mundial de AVC de 2014. No Brasil, a declaração foi lançada em Brasília, no Hospital de Base do Distrito Federal, no mesmo dia da abertura do Congresso Mundial de AVC.

De acordo com Sheila, a declaração foi elaborada por especialistas junto a pacientes e cuidadores, em uma tentativa de delimitar os assuntos que são importantes sobre o AVC, tratando de tópicos como os cuidados fundamentais, o acesso ao tratamento, discriminação, aceitação social, grupos de ajuda com pacientes, entre outros. “A declaração foi lançada na abertura do Congresso em 12 países, inclusive no Brasil, e é um documento muito importante, acho que vai ter uma boa repercussão. É um documento essencial nesta batalha de conseguir mais direitos para os pacientes”, conta.

Somente em 2012 foi lançada pelo Ministério da Saúde uma portaria definindo critérios para que fossem habilitados estabelecimentos como Centro de Atendimento de Urgência aos Pacientes com Acidente Vascular Cerebral no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A portaria  665 também autorizou o uso de medicamento trombolítico nos procedimentos do SUS,  alternativa mais expressiva para evitar o agravamento dos primeiros sintomas. “Há mais de 20 anos que o AVC é a primeira causa de morte no Brasil, em grande parte pela falta de prevenção: pessoas que não tratam a pressão alta e o diabetes, que fumam. A mortalidade alta decorrente do AVC é também por conta de o atendimento hospitalar que durante muitos anos não teve nenhum cuidado com esse tipo de paciente”, aponta.

O AVC é uma doença cara também, como aponta estudo inédito preparado pela empresa de serviços para os segmentos de saúde Orizon. De acordo com o estudo, o chamado derrame cerebral atinge 16 milhões de pessoas em todo o mundo e o tratamento da doença em hospitais privados no Brasil custa, em média, R$ 50 mil. A internação média em geral dura 18 dias, com custo médio da diária de internação de R$ 2,7 mil, e o paciente ainda pode ter que arcar com os custos para tratamento de possíveis sequelas.

De acordo com o analista de Inteligência em Saúde da Orizon, Edgard Rodrigues Paiva, é importante avaliar ainda outros fatores que ocorrem em decorrência do derrame cerebral, que pode ter uma variação de custos alta de acordo com o tempo de internação. Os pacientes mais graves acabam também apresentando outras complicações e, portanto, são submetidos a novos procedimentos além da cirurgia. “Eles podem permanecer internados na UTI para colocação de cateter venoso central de longa permanência e shunt definitivo, traqueostomias, entre outras intervenções", explica.

Campanha nacional de combate ao AVC

No Brasil, várias atividades estão previstas para marcar a semana de prevenção e conscientização ao AVC. De acordo com a neurologista Sheila, 71 cidades de vários estados do país estão participando de campanhas que irão acontecer em locais públicos como praças, parques, praias e shoppings, onde será prestada orientação aos pacientes e cuidadores, exibição de vídeos, distribuição de folhetos, verificação de pressão arterial, entre outras ações. Neste ano, o evento contará ainda com caminhadas, corrida e passeios de bicicleta no dia 1º de novembro para conscientizar e combater o AVC.

A neurologista conta que nos locais de campanha as pessoas terão orientações sobre o que é o AVC, quais são os sinais de alerta, qual o tratamento, além de ressaltar que é fundamental que o paciente chegue o mais depressa possível nos hospitais e que o mais importante de tudo é fazer a prevenção. “Uma em cada seis pessoas vai ter um AVC, mas com prevenção nós podemos nos distanciar dessa estatística. Além disso, para mostrar que o exercício físico é parte importante da prevenção, esse ano nós vamos ter o ‘Correndo contra o AVC’, onde chamamos pessoas para correrem e postarem o registro da corrida nas redes sociais com a hashtag #CorrendoContraOAVC”, explica.

*Do programa de estágio do JB