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Matemática: imaginação e disciplina ajudam na formação de líderes

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Temida por muitos estudantes, a matemática é considerada uma das disciplinas mais difíceis da fase escolar. O gosto pelos números ou o repúdio, em geral, começa na escola. Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Diego Marques, o país vive uma grande contradição quando o assunto é a formação em matemática.

“O Brasil é um país que tem uma grande desigualdade social e essa mesma desigualdade gritante ocorre com a matemática”, diz Marques que também é coordenador regional no Distrito Federal da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM).

O professor se refere à disparidade entre a formação de profissionais de ponta – caso de Artur Ávila, primeiro brasileiro a receber a Medalha Fiels – e o desconhecimento da matéria por grande parte dos alunos da educação básica – constatada por avaliações internacionais como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).

“A matemática tem um papel muito importante na vida de qualquer um. A matemática traz o rigor, a disciplina, a imaginação, a abstração, a concentração e a interdisciplinaridade que ajudam na formação de pessoas e, principalmente, líderes”, destaca Marques.

No processo de aprendizagem, o professor tem um papel fundamental, defende. “O professor precisa motivar o aluno e mostrar mais do que fórmulas. Para fazer uma analogia, é como a música. Imagina que em vez de ouvir a música, nos entregassem a partitura da música, ou seja, aquela representação escrita da música. Bem, olhar aquilo e decorar o passo a passo traz um sentimento vazio, muito aquém de ouvir e saborear uma bela melodia”, compara.

Apontar o caminho aos alunos fica, no entanto, mais difícil quando o próprio professor não tem uma formação adequada. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 62,6 mil professores de matemática não têm formação superior. O número equivale a pouco mais de um quarto dos 243,6 mil professores de matemática do país. Ainda segundo o Inep, 65,6 mil têm especialização, 3 mil têm título de mestre e 279 são doutores.

“Eu consigo enumerar vários fatores, mas também consigo relacionar vários fatores a um fator principal, que é o salário do professor. O salário do professor no Brasil deixa muito a desejar. Ele varia de estado para estado, mas ele é ruim, muito ruim", diz a professora da Universidade de Brasília (UnB) Solange Amorim, especialista em educação matemática.

Para serem bem formados, os alunos não podem ter lacunas na aprendizagem e um professor bem formado pode ser a chave para que uma trajetória escolar de sucesso. Em matemática, tudo que se aprende em uma etapa é necessário para que se entenda uma próxima.

“Quando o aluno passa de uma etapa para outra com deficiência, tudo desmorona. Os assuntos dados têm que ser bem sedimentados antes que se passe para uma outra fase”, diz o coordenador de matemática do Colégio Sigma, em Brasília, Carlos Sérgio Nunes. A dedicação do estudante também conta. “Todos são iguais perante a explicação. A diferença está no que o aluno vai fazer com ela. Deve treinar, não deixar que a distância fique muito grande entre o que foi entendido e a prática com os exercícios. Isso que vai fazer você interiorizar”, diz Nunes.

O professor de matemática do Centro de Educacional (CED) 4, do Guará 1 (DF), Jairo de Souza Peixoto, diz que os pais também podem ajudar em casa. “É importante desde cedo, com as crianças em casa, os pais começarem a orientar no processo de contagem, de raciocínio. Quando a família dá uma boa orientação, depois, na escola, fica mais fácil transformar isso em outros métodos de contagem”, explica.

Conteúdo aprendido, é possível gostar dos números. Para o aluno do 1º ano do Sigma, André Sarkis Rosa, o prazer está na resolução dos problemas. "Para resolver algumas questões, não basta saber a matéria, tem que enxergar alguma coisa por trás, criar um cenário para chegar a uma resposta. E resolver essas questões dá alegria, principalmente quando o caminho é grande e você consegue chegar na resposta certa."

"Com um bom desenvolvimento em matemática, tenho também em outras matérias, abre mais o raciocínio", diz a aluna do 9º ano do CED 4 Tatiana de Jesus. "A matemática está com a gente sempre, até quando vai jogar pingue-pongue. Na mesa retangular estão as áreas geométricas. Para jogar a bolinha, tem que calcular para onde ela vai."