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Epidemia de ebola leva à restrição de voos da Air France para Serra Leoa

Empresas aéreas reduzem voos ao passo que países buscam pacientes para tratamento fora da África

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A comunidade internacional tem refletido a epidemia de ebola tanto no sentido de buscar soluções para o surto como no sentido de se proteger para evitar que a doença entre em novos países. Países como os Estados Unidos e a Inglaterra já levaram vítimas da epidemia para serem tratadas em seus próprios centros médicos, ao passo que empresas aéreas como a British Airways, a Emirates e recentemente a Air France estão restringindo voos por conta da epidemia.

O número de mortos pelo ebola já atingiu mais de 1,4 mil pessoas, de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 2,6 mil casos já foram registrados, e Libéria, Serra Leoa e Guinée são os mais afetados. Casos de ebola também foram registrados na Nigéria e na República Democrática do Congo.

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O caso dos norte-americanos Nancy Writebol e Kent Brantly que contraíram a doença na Libéria e foram encaminhados para os Estados Unidos para receber tratamento não é único. Em Londres, o primeiro britânico a contrair o vírus recebeu na última terça-feira (26) a droga experimental Zmapp. O enfermeiro voluntário William Pooley está sendo chegou no dia 24 do oeste da África e está recebendo ou cuidados na unidade de isolamento no hospital Royal Free, no norte da capital.  A droga é a mesma utilizada no caso dos norte-americanos, que foram tratados no Hospital Universitário de Emory e já receberam alta médica.

A Alemanha também recebeu nesta quarta-feira (27) um funcionário da OMS que atuava em Serra Leoa, de acordo com autoridades sanitárias de Hamburgo. O paciente será tratado pela seção especializada em doenças tropicais da clínica universitária de Hamburgo-Eppendorf.

Nesta quarta-feira, inclusive, a companhia aérea Air France anunciou que a partir da próxima quinta-feira estarão suspensos provisoriamente os voos da companhia para Freetown, capital de Serra Leoa, por conta da epidemia de ebola. Os voos para Guiné e Nigéria continuaram sendo mantidos e a decisão da Air France é uma reposta a uma recomendação governamental. Os motivos para a suspensão envolveriam as condições sanitárias do país e a evolução da epidemia.

A infectologista Anna Caryna Cabral, que atua no Hospital Universitário Pedro Ernesto, além dos hospitais Barra Day e Daniel Lipp, explica que a proibição de voos de forma generalizada é precipitada, visto que são países que sempre tiveram casos de ebola. “O que mudou é que a epidemia ficava restrita à aldeias onde a renda per capita é, por exemplo, dez vezes menor do que a da região amazônica e dessa vez ela apareceu na Nigéria. Se fossemos impedir voos agora, teríamos que estender essa proibição para sempre – ou até descobrir a cura. É uma medida extrema”, diz.

De acordo com a OMS a redução de voos ou cancelamento de rotas aéreas destinadas aos países afetados pelo surto do vírus dificultará ainda mais a luta contra a epidemia. A entidade segue recomendando que não sejam feitas restrições aéreas. No começo de agosto, a companhia aérea Emirates suspendeu os voos para Guiné-Conacri devido à epidemia. A britânica British Airways anunciou também no começo do mês a suspensão de seus voos para Libéria e Serra Leoa. As viagens pela companhia aérea britânica para esses países estariam suspensas até o dia 31 de agosto.

A infectologista não vê necessidade em restringir voos fora do continente africano. “Temos que ter uma política de controle epidemiológico nas fronteiras e nos aeroportos, além de observar as pessoas. Isso a gente deve fazer sempre, inclusive. Nesses países mais próximos de onde o surto está aumentando, talvez seja uma medida cabível no momento e dentro da África até pode surtir algum efeito. Na Europa e nas Américas é que não me parece muito cabível”, acredita a especialista.

De acordo com a infectologista, inclusive, a preocupação maior agora é a epidemia chegar até a Angola, visto que ela está se alastrando. “O que ajuda é que não existe transmissão aérea nesse caso, só por contato. Isoladamente, é possível conter esse surto, mas no contexto onde ele ocorre é preciso atentar que são áreas com poder aquisitivo muito baixo, onde tratar os casos atuais e evitar novos às vezes fica muito complicado”, explica.