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Mortes por febre maculosa assustam população do Noroeste Fluminense

A doença já matou quatro pessoas e outros 71 casos seguem sendo analisados

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Quatro mortes por febre maculosa já foram confirmadas no Noroeste Fluminense, de acordo com nota oficial da Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde. Outros 71 casos suspeitos ainda sendo investigados. Os pacientes com suspeita da doença tiveram amostras recolhidas e seguem em processo de análise, aguardando confirmação ou não. As vítimas fatais são da cidade de Varre-Sai e as notificações se estendem também aos municípios de Natividade, Itaperuna, Porciúncula e Bom Jesus de Itabapoana. Segundo o Ministério da Saúde, em 2013 apenas um óbito por febre maculosa foi registrado em todo o estado do Rio de Janeiro.

Técnicos da vigilância epidemiológica estadual e agentes municipais de saúde também estão realizando coleta do carrapato da espécie Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como "carrapato estrela", para a realização de análise. O carrapato é o principal transmissor da doença e pode ser encontrado mais comumente em cães, cavalos e capivaras que servem de reservatório do carrapato.

De acordo com o superintendente de vigilância epidemiológica e ambiental Alexandre Otávio Chieppe é importante frisar que as ocorrências são somente em localidades muito específicas para evitar causar um alarde desnecessário e consumo de medicamento sem reais motivos. “A febre maculosa aconteceu em uma determinada localidade muito específica daquele município. Ela não está espalhada por todo o município e, nesse caso, ela acontece especialmente próxima ao rio Carangola”, aponta Chieppe.

Quanto ao rio, a infectologista Elba Lemos, chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a possibilidade de o agente transmissor ser levado para outros locais que tenham contato com o rio Carangola é remota. De acordo com ela, seria mais pertinente ressaltar a importância de animais como o cachorro, o cavalo e a capivara, que além de fonte de alimentação para os carrapatos, podem auxiliar no transporte e estão próximos ao homem. “É preciso ficar atento à presença desse inseto nos animais. É essencial que toda a população e os profissionais de saúde tenham conhecimento sobre os riscos do contato com carrapatos, direta ou indiretamente, pois esses artrópodes são o segundo maior transmissor de doenças para o homem”, pontua a infectologista.

Sobre o aumento dos casos de 2013 para 2014, Chieppe diz que uma parte importante dos casos está relacionada a uma excursão a um sítio, feita por um grupo de amigos, onde ocorreu a transmissão. “Depois que a doença é caracterizada, a tendência é haver uma diminuição dos casos. Os serviços de saúde não puderam fazer uma identificação precoce dos casos, o que acabou culminando nesses óbitos, mas no momento a gente não tem mais tido novos casos importantes”, diz Chieppe.

As diversas capivaras que existem na região estariam sendo acusadas de ser outro considerável motivo para o surto. A população local estaria percebendo um aumento na quantidade dos animais nas proximidades do rio Carangola. Chieppe, contudo, diz que no momento ainda não existem dados suficientes que permitam caracterizar que a capivara como principal reservatório da doença na região. “A gente sabe da existência das capivaras na área e estamos agora em conversa com o IBAMA para que possa ser feita uma avaliação do número de capivaras. Assim, veremos se há aumento e se tem alguma medida de controle que possa ser feita”, explica.

A Secretaria de Saúde do estado já iniciou um programa de ação que orienta os médicos a administrar imediatamente a medicação referente à doença nos casos de suspeita e ensinando a população local a se prevenir. “A febre é uma doença que traz sintomas muito comuns no começo, como febre, dor no corpo, manchas no corpo e pode ser confundida com várias outras doenças. Estamos fazendo recomendações para que as pessoas utilizem, de preferência, calças compridas, botas, roupas claras facilitando a identificação do carrapato e, sempre que sair de locais de mata, que procure pelo corpo o carrapato. Uma simples exposição ao carrapato não é suficiente para causar a doença, é preciso que haja um contato mais prolongado”, explica.

Ainda sobre os procedimentos para se proteger do risco de contaminação, Elba Lemos diz que a melhor forma de prevenir a febre maculosa é evitar áreas infestadas por carrapato, principalmente durante o período de maio a outubro. “Vale ressaltar que o controle de carrapatos em animais, assim como o uso de carrapaticidas devem ser realizados somente sob orientação de profissionais de saúde pública, agricultura e meio ambiente, considerando a concentração do produto, o melhor período do ano para o seu uso, e acima de tudo, os efeitos prejudiciais e a presença de resistência”, alerta.

A febre maculosa

A febre maculosa é provocada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida por carrapato e podendo evoluir até manifestações graves. A infectologista Elba Lemos aponta que o quadro clínico da doença é marcado por um início brusco, com febre alta e dores de cabeça, podendo haver ainda dores musculares intensas e prostração. Na evolução da doença, podem ocorrer hemorragias, náuseas e vômitos. Segundo a infectologista, o surgimento de lesões na pele aumenta também o grau de suspeição.

Lemos explica ainda que as manifestações clínicas surgem após um período de incubação que leva em média uma semana, mas que podem variar de 2 a 15 dias.

A infectologista explica que, pela febre maculosa ser causada por uma bactéria, o tratamento tem como base o uso de um antimicrobiano específico e de baixo custo, ministrado por via oral quando o paciente tem condições de ingerir a medicação. No entanto, a infectologista pontua que em pacientes graves, com edema e vômitos, por exemplo, o antibiótico deve ser ministrado por via endovenosa, além de ser necessária a administração de tratamento de suporte, dependendo da gravidade do caso. “Como a bactéria destroi a parede do vaso sanguíneo, o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível. A partir do sétimo dia de doença, a lesão torna-se irreversível e o óbito, inevitável”, alerta.

*Do programa de estágio JB