Inspirados em compostos naturais com ação antitumoral já descrita na literatura científica, cientistas do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ-Unicamp) sintetizaram em laboratório cerca de 150 moléculas que estão sendo testadas em linhagens celulares de câncer e em modelos animais.
O objetivo dos pesquisadores é desvendar o mecanismo de ação das moléculas, selecionar as mais promissoras e descobrir que tipo de modificação poderia ser feita em sua estrutura para aumentar o efeito medicinal e minimizar possível toxicidade.
O trabalho está sendo desenvolvido no âmbito de um projeto coordenado pelo professor Ronaldo Aloise Pilli, do IQ-Unicamp. Parte dos resultados foi apresentada durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada em Química Bio-orgânica, evento realizado em Araraquara, no início de julho, com apoio da FAPESP.
Segundo Pilli, a maior parte da biblioteca de compostos sintetizados na Unicamp foi inspirada em duas substâncias naturais: a piplartina – isolada da pimenta-de-macaco (Piper tuberculatum), popular no Nordeste brasileiro – e a goniotalamina – extraída das raízes e hastes de um arbusto da espécie Goniothalamus macrophyllus, originário da Ásia.
“Há grupos realizando testes com as versões naturais desses compostos, mas a grande vantagem da síntese química é poder torná-los ainda mais eficazes por meio de modificações estruturais. Nosso objetivo é descobrir princípios que sirvam de ponto de partida para a criação de novos medicamentos”, afirmou Pilli.
A ação das moléculas está sendo testada em linhagens de câncer de mama, ovário, pulmão, rim, melanoma (pele), glioma (cérebro), cólon (intestino), pâncreas e próstata. Até o momento, segundo Pilli, seis compostos sintéticos já mostraram resultados promissores contra tumores de mama, pâncreas e próstata, o que motivou o início dos testes em animais – não previstos inicialmente no projeto.
Em um experimento descrito na revista Bioorganic & Medicinal Chemistry, os pesquisadores implantaram em camundongos um tipo de adenocarcinoma mamário extremamente agressivo e de rápido crescimento conhecido como tumor de Ehrlich.
Alguns dos animais foram tratados com a goniotalamina produzida em laboratório e os demais com 5-fluorouracila – um dos quimioterápicos de uso clínico. Após 15 dias, a inibição do crescimento das células malignas e a redução da massa tumoral foram comparáveis nos dois grupos, sem qualquer evidência de toxicidade aguda nos animais tratados com o produto sintético.
Em outro modelo experimental, descrito no mesmo artigo, os pesquisadores induziram um edema na pata dos camundongos com uma substância chamada carragenina. Nesse caso, a versão sintética da goniotalamina ajudou a reduzir a inflamação.
“Estamos tentando descobrir por meio de qual mecanismo essas substâncias inibem o crescimento das colônias de células tumorais. Queremos entender em qual estágio da divisão celular esses compostos estão interferindo e descobrir se eles interagem com uma proteína de membrana ou se entram na célula e alteram alguma estrutura do citoplasma ou do núcleo. Esse conhecimento pode nos ajudar a aperfeiçoar as moléculas”, explicou Pilli.
Agência Fapesp