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Endometriose atinge mais de sete milhões de brasileiras

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O período menstrual pode ser uma tortura para muitas mulheres. Mas esse desconforto pode significar muito mais do que se imagina: um dos sintomas da endometriose, mal que atinge de 7 milhões a 10 milhões de brasileiras e é a principal causa de infertilidade no sexo feminino. 

De acordo com o ginecologista Marco Aurélio Pinho de Oliveira, membro da Comissão Nacional de Endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), estima-se que 15% das mulheres entre 15 e 45 anos de idade sofram da doença. 

“Esse percentual sobe para até 70% quando a mulher apresenta histórico de infertilidade ou dor pélvica”, explica.

Mas afinal, o que é essa doença que afeta a vida de tantas mulheres? 

“Consiste na presença do endométrio, que é a camada interna do útero, em outros locais”, informa o médico. Ele explica que, no momento da menstruação, parte do sangue eliminado passa pelas trompas e cai dentro da barriga. Ele contém células que têm a capacidade de crescer em locais como o ovário. “Quando o sistema imunológico responsável pela defesa do organismo não consegue eliminar essas células tem início o processo que leva à endometriose”, completa.

Pinho de Oliveira afirma que fatores ambientais podem influenciar no desenvolvimento da endometriose. “A dioxina, subproduto não intencional de muitos processos industriais nos quais o cloro e outros químicos dele derivados são produzidos, influencia o sistema imunológico e pode induzir o surgimento da doença. Outra substância que também pode exercer o mesmo efeito é o bisfenol, que pode aparecer em garrafas de plástico quando aquecidas”, explica o médico.

A doença afeta as mulheres de várias maneiras. “A vida conjugal, por exemplo, pode ser prejudicada pelas queixas de dor na relação sexual e pela ausência de gravidez”, explica Marco Aurélio Pinho de Oliveira, que também é membro da diretoria da American Association of Gynecologic Laparoscopists (AAGL). Mas as cólicas, a infertilidade e as dores durante a relação sexual não são os únicos sinais. “Dor com irradiação para a raiz da coxa ou para o ânus e desconforto para evacuar (às vezes acompanhada de diarreia) ou para urinar durante o período menstrual também são sintomas da doença”, esclarece.

Por ser uma doença que acomete quem menstrua, mulheres de todas as idades podem desenvolver a endometriose. Basta estar em idade reprodutiva. “A cólica incapacitante em adolescentes é o primeiro sintoma. A ideia de que sentir dor ao menstruar não é nada demais é uma das razões para o diagnóstico tardio”, orienta o médico. 

Pinho de Oliveira observou em estudos apresentados durante o último Congresso Mundial de Endometriose em 2011 (Montpellier, França) apontaram para um retardo diagnóstico de sete anos em média, fenômeno presente em vários países, incluindo o Brasil.

Como o estabelecimento da endometriose necessita da presença da menstruação, qualquer tratamento que consiga bloqueá-la por um tempo prolongado pode impedir ou dificultar o crescimento dos focos. “Existem alguns medicamentos hormonais que são normalmente usados para esse fim”, diz Marco Aurélio Pinho de Oliveira. No caso de mulheres que já sofrem da doença, é importante estimular o conceito de prevenção secundária, ou seja, impedir ou dificultar o avanço.

De acordo com ginecologista, o toque ginecológico pode revelar nódulos fixos e dolorosos na parte posterior do útero. “O toque retal também pode detectar o envolvimento dos tecidos em torno dele e do reto”, informa. A coleta de sangue venoso para dosagem do Ca-125 também pode ser utilizada, especialmente quando realizado no período menstrual.

Mas a certeza do diagnóstico só pode ser dada por meio da biópsia feita durante a laparoscopia. “O procedimento consiste na introdução de uma microcâmera através de um pequeno corte no umbigo e na manipulação da cavidade abdominal com instrumentos cirúrgicos delicados”, explica. Por ser considerada uma cirurgia, já que necessita de anestesia geral, ela assume cada vez mais um papel no tratamento. "A alta qualidade da visão obtida permite a ressecção precisa dos focos de endometriose, minimizando a formação de aderências, com o consequente aumento das taxas de gravidez”, completa.

Lançada pela Bayer no Brasil em 2012, o Allurene também pode ser uma opção no tratamento. “Trata-se de um hormônio comercializado especificamente para endometriose que já está em uso na Europa há mais de 10 anos. Muitos ginecologistas brasileiros já estão prescrevendo”, explica Pinho de Oliveira, que dirige o Ambulatório de Endometriose do Hospital Universitário Pedro Ernesto, ligado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Porém, como qualquer medicamento hormonal para a doença, ele alivia a dor mas impede a ocorrência da gravidez natural devido ao seu efeito contraceptivo. “Além disso, os tratamentos medicamentosos não conseguem eliminar os focos da doença, fazendo com que a laparoscopia ainda seja a melhor opção em várias situações”, completa.É importante salientar que a endometriose não é um câncer e não leva à morte. Porém, ainda assim, não se pode garantir a cura definitiva, mesmo com o tratamento adequado. “Mas a dor e os sintomas da doença podem ser bastante reduzidos, preservando inclusive a fertilidade”, explica o especialista. “Uma coisa é consenso: o pior a fazer é não fazer nada, já que a doença pode ser evolutiva”, finaliza.