ASSINE
search button

Colaboração pode impulsionar pesquisa brasileira em ciências marinhas  

Compartilhar

O Brasil precisa aumentar a quantidade de cientistas envolvidos com as ciências do mar, o aporte adequado de recursos para apoio a pesquisas nessa área e o estímulo à formação de novos grupos de pesquisa. Essas são algumas das conclusões do professor do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), Roberto Berlinck, que participou na última semana do Simpósio Japão-Brasil sobre Colaboração Científica, em Tóquio, onde se discutiu, entre outras coisas, uma maior colaboração entre os dos países na área.

Entre 1996 e 2011, o Japão publicou cerca de 2,5 mil artigos por ano, enquanto a produção brasileira na área cresceu, mas registrou pouco mais de 400 publicações anuais. Neste contexto, Berlinck avaliou os desafios para o aumento da produção científica do Brasil nas áreas de biologia marinha e biotecnologia marinha a partir de dados divulgados em 2010 pelo SCImago Journal & Country Rank. Na mesma lista, o pesquisador inclui como prioridades a identificação de problemas típicos do Brasil e o compromisso maior com o manejo e gerenciamento sustentável dos recursos e do ambiente marinho.

"A tradição de interesse do Japão pela pesquisa sobre o ambiente marinho pode ser comparada ao maior interesse do Brasil por seus ricos biomas terrestres", disse Berlinck ao salientar a oportunidade de cooperação entre cientistas dos dois países em projetos sobre a diversidade marinha da costa brasileira, ainda pouco conhecida em seus mais de 8,5 mil quilômetros de extensão. "A pesquisa em biotecnologia e biodiversidade está crescendo no Brasil desde o fim dos anos 1990, mas hoje precisamos de novas abordagens para investigar questões locais e gerar ciência e tecnologia que também possam ser úteis para o país", disse.

Coordenador de projetos no âmbito do Programa Biota-Fapesp - que há 13 anos apoia em São Paulo pesquisas para caracterização, conservação e uso sustentável de recursos naturais -, Berlinck defende que o aumento da massa crítica de pesquisadores nas ciências marinhas ainda é uma necessidade no Brasil. "Segundo dados do CNPq, há 645 grupos de pesquisa concentrados em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e na região Nordeste, mas há um forte declínio de especialistas em taxonomia, o que não ajuda", disse.

"No Brasil, há muito a ser feito, tanto em relação à transcrição e conhecimento do número de espécies, como sobre as relações entre elas. Um bom exemplo são os recifes de corais, onde a manutenção da saúde do ambiente depende da concentração de CO2, atualmente em crescimento em decorrência das mudanças climáticas, o que tem reduzido as populações de peixes", disse o professor da USP.

Apesar dos esforços feitos no Brasil para formação de pesquisadores e apoio a projetos nas ciências marinhas, a biotecnologia marinha e a bioprospecção são muito incipientes no País, segundo Berlinck. "Há muito conhecimento a ser compartilhado com o Japão. Ambientes muito diferentes, com grande potencial para investigação de organismos com características endêmicas específicas no Sul ou com populações de invertebrados semelhantes às do Caribe, no Nordeste, precisam ser mais bem conhecidos, e o Japão tem grande competência para isso", afirmou.

Segundo o pesquisador, é preciso fomentar as discussões para estabelecer projetos em colaboração entre cientistas brasileiros e japoneses, e elas podem começar pela curiosidade sobre as grandes diferenças entre ambientes do Atlântico Sul e do Pacífico Norte, por exemplo.

As informações são da Agência Fapesp.