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Investimento na economia de baixo carbono pode ajudar crise econômica

Opinião é de Sérgio Besserman, economista e ecologista que participou da organização da Rio+20

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A solução para a crise econômica que vem assolando o mundo desde 2008 pode estar no investimento na economia de baixa emissão de carbono na atmosfera. Por exemplo, a troca de ônibus a diesel por veículos movidos a energia limpa.

Todo o processo envolvendo esta meta - da produção do veículo à sua implantação nas ruas, poderá ajudar a se vencer a crise econômica e se atingir uma economia sustentável. Esta é a opinião do economista e ecologista – como prefere ser creditado - Sérgio Besserman, ex-executivo do BNDES e ex-presidente do IBGE. 

Como um dos organizadores da Rio+20, ele considera também que o prazo limite para o mundo solucionar os problemas ambientais são os mesmos 20 anos que se terá de crise econômica, como demonstram experiencias passadas.

“Os mesmos 20 anos que temos para nos transferir para uma economia de baixa emissão de carbono são também os 20 anos para a recuperação da crise econômica de 2008. A crise de 1873 levou esse tempo para a recuperação”, lembrou.

“De algum modo, a história conseguirá - ou não - unir esses dois problemas: atenção à economia de baixo carbono e à crise econômica. O que pode reativar a economia mundial é a retomada dos investimentos, como, de certo modo, a II Guerra Mundial provocou. Como relacionar o fim da crise com o baixo carbono? Ainda não há muita produção intelectual que dê conta". Segundo ele, a resposta a esta pergunta nos mostrará o caminho a seguir.

O economista, que atualmente preside a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável do município, também destacou que a Rio+20, “enquanto reunião da ONU, não foi grandes coisas”. Ponderou que o documento final daquele encontro não é “de ação”, apesar de ter incluído temas inéditos, como o padrão de consumo sustentável.

“Reuniões da ONU não geram ação, e o mundo está muito paralisado sobre tudo. Não enfrentamos qualquer um dos problemas da crise econômica, nem a regulação financeira mundial, nem a relação dos países deficitários. Até onde sei, o que não é enfrentado não é resolvido", avalia

Para explicar, ele lembra que as tendências opostas acabam falando as mesmas coisa embora utilizem formas diferenciadas, mas que em ambos os casos é preciso investimento. "Os economistas marxistas falam que há espaço para uma grande queima de capital  e um neoclássico diria que há uma grande alavancada a ser feita. Dá no mesmo: alguém tem que pagar e ninguém sabe direito quem”, avaliou o ecologista. 

Almoço grátis 

Como Besserman explicitou em sua palestra na sede da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), no Flamengo, Zona Sul do Rio, nessa quinta-feira (8), a principal lição da economia e a velha frase que  "não existe almoço grátis", preconizada pelo norte-americano Milton Friedman. 

Segundo o ecologista, o argumento ambiental não é suficientemente forte para mobilizar a opinião pública sobre o desenvolvimento sustentável. Para ele, todo o sistema vigente precisa ser revisto para atingir alguma sustentabilidade que, admite, ninguém sabe o que significa. "Não sabemos direito o que é desenvolvimento sustentável. Sabemos que o atual é insustentável. A maneira como as coisas estão sendo conduzidas não dará certo. Há uma multiplicidade de temas sobre o porquê (o modelo atual) não funcionará", advertiu. 

Conta nos pobres

O ecologista argumenta que, embora os discursos tentem promover que os homens salvem a Terra, o planeta sobreviverá facilmente às mudanças. Para ilustrar sua opinião, ele citou as mais diversas hecatombes que já acometeram o mundo foram superadas, como o asteroide que fez desaparecer os dinossauros. "Nosso tempo é um e o da natureza é outro. A nossa escala está em milhares de anos, mas a vida já está na Terra há 3,6 bilhões de anos. Somos poderosos somente no nosso tempo", refletiu. 

Com isso, ele avaliou que, no caso de as grandes transformações mudarem a configuração terrestre, quem pagará a conta serão justamente os pobres. "Quando vierem os custos dos fatos, não será possível combater as desigualdades sem o desenvolvimento sustentável. Quem se ferra são os pobres. Falamos de grandes problemas da humanidade", afirmou. "(As consequências) serão dirigidas aos pobres. Copacabana? Vai ser salva. E o rio lá em São Gonçalo, vai ser salvo?".

Cidades

Em relação às cidades, Besserman acredita que suas configurações passarão por muitas transformações no futuro. Os principais pontos destacados por ele foram a questão dos resíduos sólidos e do saneamento básico, que, segundo o especialista, tem a maior taxa de retorno social e ambiental; os transportes, cuja hegemonia do carro será inviável, e propondo, inclusive pedágios eletrônicos dentro das cidades. 

Ele também apontou as mudanças tecnológicas como algo que deve ser repensado, porque permitem que os cidadãos não tenham que sair de casa para trabalhar e a eficiência energética dos equipamentos deve ser ampliada com os anos. Por fim, ele destacou que a própria gestão do território deve tender a ser mais agrupada em núcleos, de modo que os deslocamentos sejam menores e, com isso, haja menos impacto e - por que não? - menos esforço das pessoas.